Há 32 anos estava longe, muito longe. Há 32 anos estava na terra onde nasci, na terra onde os meus pais nasceram, na terra para onde os meus avós imigraram, saídos de aldeias remotas de um país remoto, na terra onde toda a minha família nasceu, na terra onde muitos dos membros da minha família ficaram, enterrados. Há 32 anos mudou tudo. E ainda bem que mudou. Embora tanta coisa pudesse ter sido diferente. Alguém disse hoje que há 32 anos um país marcou um encontro com o futuro. Pena é que esteja agora a faltar ao encontro.
Empoleirado em cima de um escadote, broquim na mão, luto com uma parede que ora parece um queijo suíço ora se comporta como uma place de aço de um dos carros de James Bond. As cortinas estão quase montadas quando, sem aviso prévio, o joelho esquerdo cede. A dor resultante é a de um choque eléctrico, uma cãibra multiplicada por mil, uma paulada em cheio no joelho, corresponde ao movimento da rótula em cerca de 90º, para a esquerda e à respectiva prisão em tal posição. A perna fica hirta e em posição impossível, atiro o broquim e tudo o mais para o chão e desato aos saltos pela sala afora, até cair, até a dor passar subitamente e o joelho reassumir a posição normal. Como é que isto acontece, gostava eu de saber. O que realmente sei é que tenho de ir ao hospital para fazer uma radiogafia e obter uma receita médica para um analgésico potente porque isto vai inchar e daí a umas duas horitas, talvez menos, o joelho mais parecem dois, a perna já não se aguenta no chão, as dores são intensas. Foi a segunda vez que isto me aconteceu, acho que sei o que sente um jogador de futebol quando lhe vão ao joelho. Desta vez tive sorte, diz-me o médico. Foi só uma leve ruptura de ligamentos. Antes ainda acabo de montar as cortinas.
0,3% de crescimento (?) da economia (?) nacional (?) 3% de défice, não me façam rir que estou com os abdominais massacrados 333 medidas de modernização.
A minha mãe é que anda radiante, a partir de agora pode marcar consultas pela internet. Pena é não ter computador em casa.