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'Tou que nem posso


... graças e desgraças


terça-feira, 30 de setembro de 2003



Carta Aberta a uma mosca
 
Acho que não estou a exagerar quando afirmo que acabo de viver um dos momentos mais bonitos de amizade que provam que afinal vale a pena… vale a pena continuar a ser a contestatária, a rebelde, a má consciência, a inconformada, a irreverente, a exigente, a incómoda, em suma “a chata”.

Quando te ouvi a “zunir” à minha volta, pensei: “Oh! Só me faltava esta agora! Não posso distrair-me um minuto, entreabir um bocadinho que seja, a janela da minha casa, para entrar a achar que foi convidada”.

Mas, reconsiderei… afinal já nos conhecemos há tantos anos, se entraste foi porque sentiste que nesta minha casa nunca serás uma intrusa. E sim, é verdade que fui eu quem abriu a janela. Dalguma forma, talvez até inconscientemente, devo tê-lo feito para que tu, se estivesses atenta no meio dum dos teus voos frenéticos de passagem rasante à minha janela, reparasses que esta estava aberta , te apetecesse entrar, resolvesses ter um tempinho para me fazer uma visita…
Se alguma vez dei a impressão que estavas a devassar a minha intimidade… Ora! Já me conheces, no dia em que isso acontecesse estavas a levar com uma dose de Sheltox, em cheio entre os olhos!

Bzzz! Bzzz!

Admito, admito que demonstro que os meus princípios e valores são dissonantes com o “livro adoptado”; daí a serem propositadamente diferentes…Ora! Já passei a idade da contestação só pela contestação.

Indiferente às regras dos Homens? Essa é forte! E eu a achar que podia ser antes considerada Crítica às regras impostas

Respeitadora das regras de Deus? Se o sou, é coincidência porque não as conheço.

E já agora, mais uma coisa: eu sou sobretudo intolerante (leia-se: exigente) com as pessoas de quem mais gosto. Com os outros? Quero é que tenham muitos filhos com óculos…!

Não é assim tão importante para mim, como parece ser para ti e para os com que me querem bem, responder-te se estou à espera de ser feliz se continuar assim. Não o seria com toda a certeza se baixasse o braços e desistisse. Isso já não seria estar aqui, era mais passar por cá, - sei lá, cheguei!

Nem se trata de separar o mundo em classes estanques, os leves para um lado e os pesados para o outro. Todos têm direito ao seu espaço e às suas escolhas, da mesma forma que também me assiste o direito de escolher como e com quem me apetece estar.

E isso dá-me o conforto de saber que posso dar o ar da minha graça sem que isso implique necessariamente momentos ocos ou vazios, de me sentir num plano superior- outra dessas e levas mesmo com o Sheltox!!!

E finalmente; fico triste por constatar que a minha resistência à tentação de “me deixar ir com a onda” pode redundar num acto de egoísmo da minha parte por, sem querer, não conseguir partilhar mais com os outros e sobretudo por ter criado junto deles expectativas que agora não consigo atingir.

Há coisas que me vou permitindo a mim própria dizer; uma delas é ter algumas máximas. A que agora eu prefiro é:

Sei que não posso mudar o mundo, mas o mundo também não vai conseguir mudar-me.

Se quiseres podes usar essa frase um dia; em vez de explicares às pessoas que eu teimei toda a minha vida em ser o pilar duma estrutura que só existia no meu imaginário, sempre é mais sintético escrever:

“Aqui jaz alguém que não conseguiu mudar o mundo…
P.S. Ela manda dizer que o mundo também não a conseguiu mudar!”



Maria - simplesmente


posted by: 1 dos 2 / 19:40
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segunda-feira, 22 de setembro de 2003



A Regra
 
A frase batida: “não achas que tens que levar uma vida mais regrada?”
Quem acusa não sabe definir - ou não quer - , solta a pergunta que não espera resposta, o ponto de interrogação como mera foma de estilo.

Que regras são essas que definem a diferença entre as pessoas que “têm uma vida regrada” daquelas que, como eu, “estão no caminho da anarquia”?

Será que alguém me explica o que é isso da regra? Pergunto eu:

Acordar todos os dias à bem cedo …?

Para me "apresentar"ao trabalho a horas mesmo que não seja empregada ou não tenha empregados a cargo?

Para sofrer a punição de sair de casa a correr e a olhar para o relógio - um stress que eu vivi durante anos e de que não tenho saudades- para cumprir com as obrigações contratuais e para que a entidade patronal cumpra as suas cada fim de mês incluindo o 13º e 14º - disso sim, talvez sinta saudade!

Para levar o/s filho/s à escola… ? não os fiz! E agora? Será que tenho que me sentir culpada por isso e enrolar um boneco de trapos nos braços para, por solidariedade para com os meus amigos que os fizeram, viver essa responsabilidade?

Chegar a casa a horas convenientes para…? Cozinhar uma dose de refeição e mesmo assim ter que comer o mesmo menú durante quase uma semana?

Fazer férias no Verão, de preferência em Agosto…? embora não tenha que cumprir calendários e perder a única altura do ano em que é tolerável viver na cidade, quando, em função da regra, fica com a população reduzida a 1/3?

Ir ao cabeleireiro com regularidade… ? só porque é suposto uma senhora da minha idade gostar de se enfiar horas dentro dum local normalmente superlotado – de mulheres ainda por cima– com índices de poluição sonora acima de qualquer limite considerado legal, para me entregar nas mãos de alguém que insiste que eu devia pentear o cabelo para o lado oposto àquele a que eu sempre me habituei a fazer…?

Gostar do Natal… porque ? Porque sim, porque é feio dizer que não se gosta mesmo que isso seja verdade, porque é politicamente correcto dizer-se que se adora estar com a família toda reunida, mesmo que seja uma farsa. Não a questão da família, note-se, mas a particularidade do “reunida”.

Concreta e honestamente, acho que sou sobretudo sincera. E isso talvez incomode quem ao contrário de mim, tem outras obrigações e compromissos. Curioso! Porque a mim não me incomoda nada que os outros não sejam como eu!!!

Tenho regras, sim, regras internas e estruturais. Daquelas que não se vêem através dum horário “respeitável”, dum guarda roupa compatível com a minha idade ou duma imagem visual seguindo a moda. E à medida que os anos passam, chego amargamente à conclusão que respeito muito mais escrupulosamente as regras do que os que levantam a voz crítica em relação a mim:

Embora “sem regra”, não me lembro de alguma vez deixar de cumprir com os meus compromissos profissionais, mesmo aqueles que mais frequentemente se desprezam, ou seja, prazos;

Com ou sem guarda-roupa adequado, nunca apareci para uma festa ou jantar formal em blue-jeans rasgados;

Mesmo sem horários compatíveis, um amigo ou amiga em crise nunca precisou de me pedir assistência; e não a tem que pedir porque sabe que eu estarei sempre disponível;

Independentemente de datas estabelecidas ou do conceito da palavra “reunida”, amo profunda e incondicionalmente cada elemento da minha família;

Resumindo e concluindo, não me incomodem com essas “regras”. Já me basta uma vez por mês!!

Maria - simplesmente


posted by: 1 dos 2 / 12:44
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quinta-feira, 18 de setembro de 2003



‘TOU QUE NEM POSSO –Suite
 
E se fossem todos à merda??

Que jeitaço!

A mim, pessoalmente, dava-me gozo mandá-los um a um. Cada vez que me dirigissem a palavra, a cada pergunta, a cada bom-dia.

“Vá à merda!”

E estava resolvida a raiva, a fúria. Claro que também podia dar com a cabeça na parede. Era até muito mais justo, quem sabe mais definitivo.


SM


posted by: 1 dos 2 / 17:42
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Os 10 quilos
 
“Foram encontrados 10 quilos. Dão-se a quem provar pertencer-lhe.”

Confesso que julguei que eram os meus. Não que lhes sinta muito a falta, mas eram meus. Estava até desejosa de os recuperar parcialmente e partilhar com os mais necessitados , o que era propriedade minha – tendências socialistas, está-se mesmo a ver.

Nunca pensei que teria de fazer prova de que eles eram realmente meus, porque não sei como. Cada grama dos 10 quilos desaparecidos pertencia a uma pessoa diferente.

Eu explico. Seguindo uma ordem cronológica e começando pelos primeiros até aos últimos:


QUANTIDADE CARACTERISTICAS
2 Kg Pessoa desvairada
2Kg Pessoa angustiada
1Kg Pessoa apática
3 Kg Pessoa magoada
2 Kg Pessoa em recuperação

Pelo atrás exposto, como provo que sou a dona deles? Os meus quilos actuais não apresentam nenhuma das características mencionadas.

A pergunta que se impõe é: Se não me fazem realmente falta para que os quero? Ou porque estou agora preocupada com eles?

Resposta simples: Estou em vias de perder mais cinco, que me vão fazer falta, e esses quero ter a certeza de recuperá-los!

Venham de lá as etiquetas, definamos já as características que interessa preservar. Ponhamos o rótulo : Pessoa em reviravolta de 180º

SM

TAMBÉM HÁ DIAS ASSIM 2

....e também há dias em que acordamos num planeta diferente. Adormecemos num sítio e acordamos noutro. Baterias carregadas, bla ,bla, bla, consciência tranquila, bla,bla,bla bla,bla, mas os vizinhos são verdes e as casas parecem cogumelos. Na mesa de cabeceira um livro de instruções e uma carta de boas vindas.

Já não é mau. A desorientação não é completa.

A grande descoberta é que afinal em Marte também há dias de sol, amizade verdadeira e a consciência tranquila continua a ser leve.

Tenho só que me habituar aos vizinhos verdes e às casas champignons.
Confesso : Podia ser pior !!

SM


posted by: 1 dos 2 / 13:13
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quarta-feira, 17 de setembro de 2003



TAMBÉM HÁ DIAS ASSIM...
 
...Em que acordamos de manhã com força suficiente para carregar o peso do mundo e não nos deixarmos esmagar por ele.

Dias em que, uma consciência tranquila, nos permite enfrentar os maiores desafios, encarar com ligeireza as maiores adversidades e ver sobretudo o lado bonito da vida.

Como acredito que o mundo tem sempre o mesmo peso específico, e que a vida tem sempre dois lados – o bonito, e o “...menos bonito”- tenho que admitir que a diferença está em mim.

Está na força de que disponho em cada momento. Na minha capacidade de acumular energias. Na utilização das fontes de energia que são passíveis de me alimentar.

Hoje tenho as baterias carregadas ponto Quero continuar a carregá-las com a certeza dos deveres cumpridos, com a amizade verdadeira, com a consciência tranquila ponto Quero evitar desperdiçá-la ponto Porque os recursos não são ilimitados e amanhã também tenho que viver ponto final parágrafo



AS MULHERES PORTUGUESAS SÃO ASSIM?

“Eles estão dispostos a tudo “ leio, não sem espanto, na legenda publicitária do anúncio da TVI ao Big Brother 4.

Na fotografia, 14 jovens – rapazes e raparigas – descomprometidamente em pêlo, sustentam a informação e incitam as mentes dos passantes a tirar as mais arrojadas conclusões.

Certo. Eles só avisaram. E como eu não estou interessada em “tudo” não vejo. Porque não quero. Porque acho que nada tem a ver comigo.

Excepto quando pego na FOCUS, vejo as pequenas coladas na capa com a seguinte legenda e respectivo subtítulo:

È este o retrato das mulheres portuguesas?
Elas representam o ideal de beleza da maioria das jovens adultas e têm o mesmo sonho: Serem Famosas

Hello??!!!

Quando é que eu assinei a declaração a dizer que estava disposta a tudo para ser famosa?

Não me lembro sequer de ter sido consultada. E as minhas amigas dizem o mesmo.

Ah!Já sei...

É que não faço parte da maioria e esqueci-me que já não sou tão jovem assim.

Como tal: Se é preciso estar disposta a tudo NÂO CONTEM COMIGO!

SM


posted by: 1 dos 2 / 13:20
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terça-feira, 9 de setembro de 2003



A Independência
 
Tudo na vida tem um preço. Algures na minha vida ensinaram-me isso.

Não valorizei.

Aceitei como dado adquirido da mesma forma que tantas outras aceitei sem questionar. Aceitei que temos que munir-nos de instrumentos que nos permitem, a partir do momento em que temos que nos afirmar como independentes, exercê-lo.

O que ninguém me disse aprendi à minha custa. Não me disseram que o preço para assumir essa independência poderia hipotecar outros conceitos que igualmente me transmitiram como fundamentais. Aprendi à minha custa que alguns deles são incompatíveis.

Ou então, entendi tudo ao contrário!

Mais grave… continuo sem entender.

Porque eu, aluna aplicada, acreditei que tinha que construir a minha vida baseada nesses valores – os tais inquestionáveis porque verdadeiros -. E sempre me esforcei para cumprir aquilo que achei que esperavam de mim. Quantas vezes, com esforço, a custo, mas… lembrando-me sempre da frase repetida desde os verdes anos: “dos fracos não reza a história”...

Até que um dia percebi o que não me avisaram: não podemos acreditar em tudo que nos ensinam.


Maria Simplesmente



posted by: 1 dos 2 / 17:52
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O regresso do Big Brother
 
“A teletela recebia e transmitia simultaneamente. Qualquer ruído que Winston fizesse, mais alto que um leve murmúrio, seria captado pelo aparelho; além disso, enquanto permanecesse no campo da visão da placa metálica, poderia ser visto também. É claro que era impossível saber se num determinado momento determinado cidadão estava a ser vigiado ou não. Impossível saber com que frequência ou com que periodicidade a Polícia do Pensamento ligava para a casa deste ou daquele indivíduo. Era mesmo concebível que vigiasse toda a gente ao mesmo tempo. A verdade é que podiam interceptar qualquer linha, sempre que o desejassem. Tinha de se viver – e vivia-se por hábito que se tornava instinto – na suposição de que cada som era ouvido e, salvo quando feito no escuro, cada movimento era observado”.

in 1984, de George Orwell (da tradução portuguesa de L. Morais)

‘Nineteen Eighty Four’ foi publicado pela primeira vez no dia 8 de Julho de 1949. Provavelmente completado ainda em 48, George Orwell terá gostado da capicua e situado a história em 84 por essa razão. Parece lógico. Mas não é científico. Até lá, terá pensado Orwell, trinta e quantos anos, trinta e cinco, é tempo suficiente para justificar o desenvolvimento tecnológico capaz de permitir que, realmente, o Grande Irmão vele por todos.

O Grande Irmão que tanto preocupou George Orwell e que levou Michael Radford a assinar um filme notável, a última grande metragem em que participou Richard Burton e em que John Hurt terá desempenhado o papel da sua vida (a propósito, o filme estreou em... 1985), está de volta. Haverá quem diga que o Grande Irmão nunca nos deixou e que cada vez zela mais de perto por todos nós, através do número de contribuinte, do cartão de crédito e cartão multibanco, da via verde, da segurança social, mas fora isso - e a tal já nós estamos todos bem habituados -, o mano até tem tido alguns períodos de descanso.

Agora, o Grande Irmão regressou de férias. E parece que veio cheio de energia. Mas está numa fase esquisita, em que já não lhe interessam tanto cartões de banda magnética nem bases de dados; a possibilidade de calcular a velocidade média - excessiva entenda-se - a que se transita na auto-estrada nem sequer o faz pestanejar. O mano particularizou. Anda com vontade de usar teletelas que recebem e transmitem em simultâneo e outros artifícios tecnológicos para ler o que não foi escrito para ele e ouvir aquilo que seguramente não lhe foi destinado. Tudo coisas a que pode recorrer para criar a sensação que, num determinado momento, determinado “cidadão” pode estar a ser vigiado e, já agora, vigiá-lo mesmo. Isto para não falar em métodos menos sofisticados, mas nem por isso caracterizados por graus de eficácia inferiores, como por exemplo a prática milenar de dividir para reinar, leia-se, para melhor poder obter (sacar, fica melhor) informações sobre cada um.

Quase 30 anos após o início da terceira vaga mundial de democratização, que nós, portugueses, até tivemos a honra de inaugurar, volta a viver-se o hábito que se torna instinto na suposição de que cada som é ouvido e, salvo quando feito no escuro, cada movimento é observado. Pois é... George Orwell não previu as câmaras de visão nocturna - usadas com sucesso por outro Big Brother, por sinal bem badalhoco - e que permitem ver até o que se passa debaixo de cobertores. O mano é que não descura as novas tecnologias. Este, vai a todas.

Feito o alerta, cuidado com o que se diz e com o que se escreve porque mesmo sem teletelas evidentes as paredes podem ter olhos e ouvidos. Escrever, só mesmo com papel e lápis. E já agora outro conselho: sem carregar muito. É que apesar de pouco esperto, o Grande Irmão não desdenha de um bom desafio...

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 14:24
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BURRA,BURRA,BURRA
 
Seria de esperar que ao atingir tão distinta idade, tivesse aprendido alguma coisa. De útil, quero eu dizer.

Aprender, aprendi. A custo. Saber feito de cabeçadas, de mossas, de cacos, muitas vezes.

È com certeza sinal de pouca inteligência continuar a esbarrar nas paredes que sempre estiveram naquele sítio. Já devia saber que há paredes ali. Que são duras, que não se afastam. Que sou eu que tenho de evitá-las.

Porque és tão burra, Maria?


Simplesmente Maria


posted by: 1 dos 2 / 11:31
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À DESCOBERTA DE NÓS..
 
Deu-me para calcorrear estas terras que conheço tão mal. A consciência das nossas limitações tem destas coisas. Faz-nos meter pés ao caminho e partir à descoberta das coisas bonitas, da beleza, do conhecimento.

Tem-me levado aos sítios mais calmos, às paisagens mais belas e tranquilas, até às flores mais delicadas. Tem-me levado ao fundo de mim.


Simplesmente Maria


posted by: 1 dos 2 / 11:29
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'Tou mesmo que nem posso
 
A vida gosta de jogar connosco um jogo difícil. De que , a maior parte das vezes, desconhecemos as regras e muito menos o objectivo. Jogamos porque gostamos de jogar, ou muito simplesmente porque não temos escolha.

Esta é a maneira cómoda e descomprometida de interpretar os obstáculos que vamos encontrando no nosso caminho. Evitamos assim assumir uma parte da responsabilidade que nos cabe em tudo o que nos acontece. Torna-se mais fácil, então, aceitar as contrariedades e não assumir que cada pequeno gesto nosso, cria uma reacção que escapa ao nosso controlo.

De todos os perigos que vamos encontrando ao longo do nosso caminho, o mais difícil de aceitar como responsabilidade nossa, é a incapacidade de fazermos felizes aqueles a quem queremos bem. Carrega consigo o peso do nosso fracasso e dói duplamente porque nos magoamos ao magoarmos alguém que faz parte de nós. Não é difícil de aceitar por falta de consciência, é difícil de aceitar porque é o atestado da nossa incompetência emocional e afectiva.

A vida tem realmente muito pouca culpa dos nossos erros. Ela limita-se a escrever a história que cada um de nós vai ditando. O argumento é nosso, e somos tentados muitas vezes a rever o que já dissemos ou fizemos. Para apagar, para contar melhor e com verdade, o que nos parece que ficou pouco claro. Infelizmente, este texto escreve-se com tinta permanente, num livro cujas páginas estão numeradas, e onde as únicas correcções possíveis, são as rasuras ou os parêntesis que isolam linhas de texto que decidimos não querer incluir na história.

Mas nada apaga o facto de que está escrito, de que, em determinada altura, a história assumia outros contornos e a perspectivávamos sob um outro ângulo.

A nossa história não se pode apagar. Pode ser emendada, pode ser corrigida, e é bom que olhemos para as rasuras com carinho, que sejamos capazes de encontrar nas histórias que não quisemos ou não fomos capazes de acabar, as razões das nossas escolhas.

Sejamos capazes de aprender com os caminhos mal escolhidos. Sejamos capazes de perdoar e de conviver com a ideia de que nem sempre tudo tem perdão. Ou melhor, de que a página não pode ser rasgada do livro. Sobretudo se fomos injustos. Sobretudo se embrenhados na nossa história, não percebemos que ela já não era só nossa .Sobretudo se não soubemos amar para além de nós.

Raramente a vida nos prega partidas. Somos nós que a maltratamos, vezes e vezes sem conta, sem lhe reconhecer o valor inestimável que ela tem, e as oportunidades únicas que nos vai dando.

Com toda a humildade de que sou capaz, curvo-me ao peso dos meus gestos, peço perdão à vida e a ti também, meu amor.


S.M.



posted by: 1 dos 2 / 09:44
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sexta-feira, 5 de setembro de 2003



A tola e a stressada
 
Largamos as tres pancadas a tola e viramo-nos para a stressada. Nao apreciamos grandemente, nem uma nem outra. Senao nao lhes chamariamos nomes,certo?

Porque mudamos, entao? Somos impelidos, nao temos escolha.

A ligeireza da tola atrai-nos. E mais forte do que nos. Superficial,descomprometida, aerea.Pomos os assuntos ditos serios em banho-maria ( posto que desaparecer, nao desaparecem ), esvaziamos a cabeca de preocupacoes e limitamo-nos a viver a curto prazo ( com uma data limite escondida).

Gosto da tola.Com contrato a termo.Vem. Mas nao vem para ficar.

A stressada ja traz outros "bonus" consigo. Tem a particularidade de, ao absorver ate ao tutano todas as nossa energias, nos fazer esquecer por completo a tola - e as outras coisas todas. E durante o seu reinado nenhuma outra cabe no nosso pensamento.Consome o nosso tempo. Consome-nos.

Chega sem avisar. Instala-se sem pedir autorizacao, toma de assalto as nossas casas e as nossas vidas. Nao pede opiniao. Assume o comando.

So falo nela porque ja chegou, alias. De repente.

Aproveitou a boleia das chuvas do final de Agosto e ei-la pronta para me atirar para um rodopio sem treguas.

So que desta vez, acho que vou deixa-la ficar sob determinadas condicoes. Chegou a altura de lhe impor algumas regras de sa convivencia.

"Nem tanto ao mar, nem tanto a terra" - diz a minha mae.

E resolvi dar-lhe razao.

Terminada a "Epoca Tola" , comecou a "Epoca do Stress".Comeco a ver inumeras vantagens na bigamia.....



Simplesmente Maria


posted by: 1 dos 2 / 12:24
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quarta-feira, 3 de setembro de 2003



A rentrée
 
Atribulações de umas férias diferentes.
Como ficar cansado, não gastar muito dinheiro e desejar voltar ao trabalho.

Siga passo a passo os conselhos de quem sabe e não há que errar.

Primeiro - Indispensável - ter um ano mau, daquele género que não consegue resumir em 3 linhas em que é que ocupou o tempo que vai dum Agosto a outro Agosto. Esta permissa é pois fundamental para questionar se se justifica ir gastar uma fatia das suas reservas financeiras, ao abrigo da má consciencia que nos diz, em anos anteriores "não tenho dinheiro para isto, mas, porra, bem que mereço uma viagem!!!"

Segundo - Comunicar a todos os amigos e familiares que não vai sair da cidade. É o sucesso garantido para ser inundado de solicitações que invariavelmente começam por "uma vez que ficas por cá, já agora..."

Terceiro - Achar que vai ser a oportunidade única de tratar das coisas que durante o resto do ano não tem tempo; o candeeiro avariado, a porta do armário que não fecha, o quadro que precisa de uma moldura nova, a revisão anual dos dentes, o barulho do motor do automóvel, a bateria do computador, as almofadas novas para o sofá... Em pleno Agosto, é mais uma vez garantido que vai andar com essa preocupação todos os dias sem conseguir pôr um "visto" na lista que tão alegremente elaborou. É que: o electricista não atende, a carpintaria fechou, a galeria de arte "só em Setembro", o dentista nunca tem um "ano mau", o informático, que teve um ano mau, não tem a peça em stock, a loja que tem o tecido que "vai mesmo a matar com a cor do sofá", tem colado na porta o eterno A4 invariavelmente assinado pelo gerente que insiste em nos tratar por "estimado cliente" para logo a seguir e com palavrinhas mansas nos mandar à merda e voltar quando ele regressar de férias.

Quarto - Não esquecer que a mulher a dias não vai ter a mesma opção. Como tal, há que lhe dar as férias de lei, incluindo o respectivo subsídio para ficar você a braços com aquela terrível responsabilidade, da qual até já se tinha esquecido, de garantir que não se acabam as cuecas lavadas na gaveta, de aspirar o tapete da sala, de limpar o pó, e, sobretudo, de passar a ferro a pilha de roupa que se vai acumulando sem se dar conta. Para este item, conte aliás com pelo menos dois dias por semana para não sentir que o caos se instalou em sua casa.

Quinto - Por esta altura começam a dúvidas se de facto tomou a decisão acertada... Reaja! Aceite tudo quanto lhe propõem. Fins de semana relâmpago - sim, porque você tomou a decisão inabalável de não partir -e sobretudo jantar fora. Não faça contas: vai chegar à terrivel conclusão que grande parte do orçamento que seria destinado às férias vai ser canalizado para gasolina, portagens, refeições e contas telefónicas para ir sabendo como estão a correr as férias dos amigos.

Sexto - Cair na asneira de estar com os amigos que resolvem visitá-lo em sua casa. Obviamente eles estão de passagem, eles sim, viajaram, logo, ao fim de algum tempo será inevitavel que seja você a levá-los ao aeroporto ou ao comboio vendo-se assim no papel terrivel do que se despede mas que fica. A lágrima no canto do olho é mais difícil de conter, isso é garantido. Para não falar no vazio que instantaneamente se instala quando regressa a casa e, por uma vez, achar que dispõe de espaço a mais.

Sétimo - Quando, ao fim deste tempo, chegar à conclusão que tomou a decisão errada... desengane-se. É que o telemóvel que esteve anormalmente silencioso durante este período, resolve começar a dar sinais de vida. Quem, ao contrário de você, foi realmente de férias, está de volta e sem paciência para ouvir que você está cansado... de não fazer nada! Ao fim e ao cabo, se não foi de férias foi porque não quis!!!!

Maria Simplesmente


posted by: 1 dos 2 / 23:49
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Estão abertas as hostilidades!!!


posted by: 1 dos 2 / 22:35
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"...
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

Vinicius de Moraes
in Antologia Poética




posted by: 1 dos 2 / 22:35
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