A frase batida: “não achas que tens que levar uma vida mais regrada?”
Quem acusa não sabe definir - ou não quer - , solta a pergunta que não espera resposta, o ponto de interrogação como mera foma de estilo.
Que regras são essas que definem a diferença entre as pessoas que “têm uma vida regrada” daquelas que, como eu, “estão no caminho da anarquia”?
Será que alguém me explica o que é isso da regra? Pergunto eu:
Acordar todos os dias à bem cedo …?
Para me "apresentar"ao trabalho a horas mesmo que não seja empregada ou não tenha empregados a cargo?
Para sofrer a punição de sair de casa a correr e a olhar para o relógio - um stress que eu vivi durante anos e de que não tenho saudades- para cumprir com as obrigações contratuais e para que a entidade patronal cumpra as suas cada fim de mês incluindo o 13º e 14º - disso sim, talvez sinta saudade!
Para levar o/s filho/s à escola… ? não os fiz! E agora? Será que tenho que me sentir culpada por isso e enrolar um boneco de trapos nos braços para, por solidariedade para com os meus amigos que os fizeram, viver essa responsabilidade?
Chegar a casa a horas convenientes para…? Cozinhar uma dose de refeição e mesmo assim ter que comer o mesmo menú durante quase uma semana?
Fazer férias no Verão, de preferência em Agosto…? embora não tenha que cumprir calendários e perder a única altura do ano em que é tolerável viver na cidade, quando, em função da regra, fica com a população reduzida a 1/3?
Ir ao cabeleireiro com regularidade… ? só porque é suposto uma senhora da minha idade gostar de se enfiar horas dentro dum local normalmente superlotado – de mulheres ainda por cima– com índices de poluição sonora acima de qualquer limite considerado legal, para me entregar nas mãos de alguém que insiste que eu devia pentear o cabelo para o lado oposto àquele a que eu sempre me habituei a fazer…?
Gostar do Natal… porque ? Porque sim, porque é feio dizer que não se gosta mesmo que isso seja verdade, porque é politicamente correcto dizer-se que se adora estar com a família toda reunida, mesmo que seja uma farsa. Não a questão da família, note-se, mas a particularidade do “reunida”.
Concreta e honestamente, acho que sou sobretudo sincera. E isso talvez incomode quem ao contrário de mim, tem outras obrigações e compromissos. Curioso! Porque a mim não me incomoda nada que os outros não sejam como eu!!!
Tenho regras, sim, regras internas e estruturais. Daquelas que não se vêem através dum horário “respeitável”, dum guarda roupa compatível com a minha idade ou duma imagem visual seguindo a moda. E à medida que os anos passam, chego amargamente à conclusão que respeito muito mais escrupulosamente as regras do que os que levantam a voz crítica em relação a mim:
Embora “sem regra”, não me lembro de alguma vez deixar de cumprir com os meus compromissos profissionais, mesmo aqueles que mais frequentemente se desprezam, ou seja, prazos;
Com ou sem guarda-roupa adequado, nunca apareci para uma festa ou jantar formal em blue-jeans rasgados;
Mesmo sem horários compatíveis, um amigo ou amiga em crise nunca precisou de me pedir assistência; e não a tem que pedir porque sabe que eu estarei sempre disponível;
Independentemente de datas estabelecidas ou do conceito da palavra “reunida”, amo profunda e incondicionalmente cada elemento da minha família;
Resumindo e concluindo, não me incomodem com essas “regras”. Já me basta uma vez por mês!!