Gestos automáticos. Chave na ignição, primeira, cinto de segurança colocado já o carro vai a andar o que obriga a alguma coordenação entre mãos para que não se largue o volante enquanto se completa uma acção e se começa outra.
Maus hábitos a que se junta um telemóvel, que por vezes vai dentro de uma pasta ou de um bolso de casaco, ou está algures dentro do carro mas vá lá saber-se onde, que espera que a marcha se inicie para tocar ou aguarda que a gente se lembre que é precisamente nesse momento que é imperiosa a necessidade de ligar a alguém ou mandar um sms. Talvez faça isso na esperança que o condutor se lembre de mandar equipar o seu carro com uma geringonça qualquer que por muito cara que seja deve custar uma fracção do que custou o veículo, que mesmo que seja velho já foi novo, e provavelmente menos que uma multa por ocupação indevida das mãos.
O vizinho, que eu não conhecia pessoalmente mas com quem me cruzava amiúde no parque de estacionamento do prédio onde vivo já não precisa de comprar um. Ficou com o telemóvel na mão. Debaixo de um dos muitos camiões que não param de passar na minha rua desde que lá se leva a cabo um projecto de renovação que nunca mais tem fim. Dizem que nem sequer foi de repente.
Nos últimos tempos tenho tido uma persistente e perturbadora sensação de não ter nada para dizer. Nota-se pela minha ausência destas páginas.
Nada. Falta de quantidade e de qualidade. Absoluta ou relativa. Quase como nas páginas amarelas, onde mesmo que cada um vá pelos seus dedos tem que passar por quem lá está e quem não está lá não existe. É por isso que aqui estou. Para dizer que ainda aqui estou e que continuo a ter a tal sensação estranha de não ter nada para dizer.
Posso não falar de nada, passe a dupla negação, é fácil, ou posso, pelo contrário, falar de nada. Do que não existe. Ou do que prefiro ignorar, porque me incomoda (e o que é que não me incomoda?) e assim deixa de existir. E se não existe, talvez não valha a pena falar disso. Do que não é, e mesmo que fosse, no fim de contas, talvez nem sequer fizesse sentido falar disso, de coisas que não são nada.
Algarve, 4 dias depois de um “divórcio” de mais de 10 anos.
Não nos reconciliámos! Para tal seria necessário que algo mudasse. E nada mudou, nem o Algarve nem eu.
Talvez esteja a exagerar um pouco. Notei algumas mudanças, sim: nos restaurantes, antigamente os empregados portugueses, dirigiam-se aos clientes, independentemente da sua proveniência, em inglês. Agora, não há empregados portugueses! E até na praia, o típico pregão “Olha a bola de Berlim!” ou “Olha a batatinha frita!” é proferido com um forte sotaque que tem tudo menos de algarvio.
Valeu a pena pela companhia de bons amigos, pela boa disposição, pelos passeios de bicicleta que nos afastaram do caos e da confusão de gente, carros e ruído.
Definitivamente, o Algarve e eu… não nos entendemos!
O que eu fui sonhar!
Na noite de Domingo passado, adormeci no sofá em frente à televisão – que é para isso que ela serve.
Adormeci e sonhei, um pesadelo terrível. Imaginem que sonhei que estava a dar um programa na TVI em que o apresentador era um ex-residente da casa do concurso Big Brother.
Esta descrição é quanto basta para classificar o meu sonho de mau, mas… não fica por aqui. O verdadeiro pesadelo começa se vos contar, pasmem, que sonhei que tudo se passava numa estância de nudistas algures no Brasil e que o dito senhor não só apresentava como se apresentava em nu integral!
Até em sonhos, prezo sempre cuidar da qualidade estética do que vejo.
É proibido voltar a escrever a palavra “adeus” neste blog!!!
E porque até concordo que o poema é bonito, com outro te respondo.
Haja o que houver
eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti
Volta no vento
Ó meu amor
volta depressa
por favor
Há quanto tempo
já esqueci
Porque fiquei
Longe de ti
Cada momento
é pior
Volta no vento
Por favor
Eu sei, eu sei
Quem és para mim
Haja o que houver
espero por ti
Há tempos vi um daqueles truques de magia, ilusões, é assim que se designam em tempos politicamente correctos, que nos deixam de boca aberta mas como é possível fazer desaparecer uma pessoa numa plataforma que não está assente no chão, não tem nada visível, pois é, e eu sei, visível, que dê para esconder seja o que for, e fazê-la reaparecer depois de um golpe de cortina.
Sempre que vejo uma ilusão dessas fico com vontade de perguntar se não haverá maneira de pedir o equipamento emprestado e aplicar o truque a certas pessoas, deixando-o a meio…
Quis saber quem sou, O que faço aqui, Quem me abandonou, De quem me esqueci, Perguntei por mim, Quis saber de nós, Mas o mar, Não me traz, Tua voz.
Em silêncio, amor, Em tristeza e fim, Eu te sinto, em flor, Eu te sofro, em mim, Eu te lembro, assim, Partir é morrer, Como amar, É ganhar, E perder.
Tu vieste em flor, Eu te desfolhei, Tu te deste em amor, Eu nada te dei, Em teu corpo, amor, Eu adormeci, Morri nele, E ao morrer, Renasci.
E depois do amor, E depois de nós, O dizer adeus, O ficarmos sós, Teu lugar a mais
Tua ausência em mim, Tua paz, Que perdi, Minha dor que aprendi, De novo vieste em flor, Te desfolhei...
E depois do amor, E depois de nós, O adeus, O ficarmos sós.
José Niza, 1974
Não. Depois de nós, só o adeus. Sós é que não ficamos.