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'Tou que nem posso


... graças e desgraças


quinta-feira, 21 de julho de 2005



A gota de água solidária
 
«A gota de água que terá feito transbordar o copo foram os ataques da oposição», assim noticia o Diário de Notícias a demissão de um ilustre membro do governo da República. «De acordo com as fontes contactadas pelo DN, o ministro saiu visivelmente extenuado» de uma reunião na Assembleia da República, «tendo mesmo tomado um café com dois pacotes de açúcar durante a reunião» (sic.).

Pedem-me sacrifícios. A mim, pessoalmente.

De frente, olhos nos olhos, o senhor primeiro ministro pediu sacrifícios. Eu vi e ouvi. Foi a mim que ele se dirigiu. Digam o que disserem, eu vi ali um toque pessoal.

É por isso que este ano não vou de férias em Agosto. Esta minha decisão nada tem a ver com o facto de não ter ninguém que me substituisse se quisesse ir de férias em Agosto e, caso fosse, tivesse de fechar as portas de um serviço público que não pode fechar portas.

Não.

Estou apenas, e só, solidário.

Quatro meses, seguidos, a trabalhar é muito tempo. Esgotado, o senhor ministro pode agora ir de férias tranquilo. Até porque não terá de continuar a acumular uma reforma e um vencimento.

Quanto às minhas férias, limitar-me-ei, em Agosto, a tomar cafés com pelo menos dois pacotes de açúcar.

Dois pacotes, senhor primeiro ministro. Até os sacrifícios têm limite.

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 08:30
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sábado, 16 de julho de 2005



A diferença entre o verbo “estar” e o verbo “ir”.
 
Agosto aproxima-se. Quase tão mau como o fim do mês de Dezembro.

É o mês que se impõe para se descansar, em que os dias são compridos, em que supostamente o clima nos oferece dias quentes, praia, sol, viagens. Em grupo, em família ou a solo, não interessa; o que interessa é “ir”.

As conversas de ocasião, para além do trivial “olá, bom dia” são enriquecidas com a eterna pergunta “quando vais de férias?” E se a frase da resposta não contiver o verbo “ir” … está errada! Não se pode “estar de férias” no sentido estático do verbo estar; férias é sinónimo de movimento, logo, a expressão correcta é “vou de férias…”.

Se alguém lhe perguntar: Então quando é que vai de férias? Tente responder: “Eu estarei de férias a 1ª quinzena de Agosto”. Não se admire se se instalar uma pausa de breve falha de comunicação para logo voltarem à carga e lhe corrigirem a sintaxe: “Não, não é isso; perguntei quando vai.”

Ir e estar, são estados diferentes.
Ir de férias impõe respeito: não se incomoda ninguém porque “ele foi de férias”. Já o outro predicado, é olhado com desprezo; saber que alguém não está a trabalhar apenas porque está de férias, dá-nos o direito de o contactar sem problemas de consciência: porque não foi a lado nenhum, apenas está.

Um dos exercícios que tenho que fazer este ano é o de não me enganar neste pequeno detalhe gramatical. Este ano eu tenho que ir de férias se quiser por uma vez fazer parte do universo a que pertenço!

Maria


posted by: 1 dos 2 / 15:19
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domingo, 10 de julho de 2005



Um filme que já vi
 
Jantar fora como pano de fundo. Dois amigos encontram-se para conversar e contar os últimos desenvolvimentos da vida um do outro. Já o fazem há tantos anos que nem têm memória das suas vidas em que um não saiba o que se vai passando na vida do outro.
Regressam ao hotel a pé. A noite está morna. Ainda se sentam para comentarem e analisarem mais um dos vários assuntos que encetam sem terminar porque logo outro surge.
O hotel, de 5 estrelas, não deixa de ser isso mesmo, um hotel. Elegante, staff profissionalmente atencioso e de sorriso estudadamente simpático, mas… impessoal. Despedem-se num amplo abraço, gesto já tão habitual como as inúmeras despedidas que acumularam ao longo de mais de 20 anos.
Ela chama o elevador. Sobe até ao último piso do edifício. O aposento, o melhor que o hotel tem para oferecer, espera-a na continuidade do restante: elegante, acolhedor, sofisticado e, obviamente, impessoal.
Pousa a carteira numa cadeira, liberta os pés dos sapatos que larga no meio do quarto.
Entra na sala que divide os dois quartos: o das visitas e o da dona da casa, ausente. Sem acender as luzes, aproxima-se da ampla janela. O habitual sistema anti-suicídio impede de a abrir mais do que 20 cm. Inventa um texto para um aviso apropriado: Estimado hóspede, se pretender suicidar-se, agradecemos que o faça longe deste hotel. Ass: a gerência.
A câmara percorre a vista, deslumbrante.
Imagina-se princesa que do cimo da torre do castelo ou palácio, rodeada de todas as mordomias que pode imaginar, olha, distante e com olhar triste, o povoado que se estende a seus pés.
A lua acaba de nascer. Ainda está grande e amarela, envolta por algumas nuvens que ainda realçam mais a beleza de estar cheia. Com um gesto distraído carrega no botão do remoto e deixa a música romântica e démodée tocar, sua única companhia.
Ouve-se a voz dela que traduz o que pensa
- De que adianta uma lua destas se a olhamos sozinhos?
Acende um cigarro e fica mais alguns instantes a admirar a vista.
No reflexo do vidro, surge uma imagem dum olival, transportando-nos para algo que se parece com uma paisagem alentejana.
Flash back dos extractos duma conversa que em tempos aconteceu.
O cigarro chega ao filtro.
Vira-se, apaga o som do rádio, despe-se lentamente, enfia a camisa de dormir, escova os dentes, o cabelo, lava o rosto. Olha relutante para a sua imagem reflectida no espelho e deixa escapar um suspiro de desalento. Entra no quarto, olha para a cama de casal, os lençóis imaculados e as almofadas de penugem de ganso, esboça um sorriso irónico.

Maria


posted by: 1 dos 2 / 03:23
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