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'Tou que nem posso


... graças e desgraças


domingo, 29 de fevereiro de 2004



A formiga cantou… ou desencantou?
 
E assim, lá foi a nossa formiguinha para o 4º desfile. Já estava um bocadito cansada de tanto ensaiar.

Mais habituada a trabalhar do que a pavonear-se para a assistência, olhou para o calendário e viu que o Carnaval já tinha acabado. Mais tarde ou mais cedo todos iriam ver que debaixo da máscara, não ia estar uma cigarra arrogante, que prometia mais do que aquilo que podia oferecer, que embora achasse que podia cantar nunca o havia feito para uma plateia oficial. É que cantar para os amigos não é curriculum suficiente para provar que se é capaz.

Antes que lhe voltassem a pedir para enumerar os desfiles em que já tinha participado, a formiga inspirou fundo, fez peito, arrancou a máscara da paciência, rasgou o fato da fantasia, esqueceu a ponderação e cantou ao desafio:

Querem que dance, eu dançarei,
Que de musica entendo eu
Querem que cante, eu cantarei.
Afinar será problema meu.

Se me quiserem aqui estou
Porque esta, assim eu sou.
Se não vos convenço, escutem só
Digo apenas e sem dó
Digo apenas desculpem lá
Ao meu formigueiro volto já.



E depois retirou-se , “formosa mas não segura”.

Maria


posted by: 1 dos 2 / 16:11
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004



Tons de cinza
 
O cinzento escureceu. Adornou-se de amarelo, o tempo parece confundir as estações, a Primavera está à porta, o Outono ainda por aí aparece, vem, de vez em quando, faz-se de esquecido, como se tivesse deixado qualquer coisa por completar. O blogue alindou-se, emoldurou-se. Melhor, foi adornado, alindado, emoldurado. Está bonito. Mais fácil de ler. Os meus olhos agradecem.

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 07:25
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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004



A formiga e a cigarra.
 
Era uma vez uma formiga trabalhadora. Mais do que qualquer outra formiga que eu conheço. Não o fazia para se precaver das dificuldades no Inverno. Trabalhava para não ter problemas no fim do mês, ou, o mais tardar, no início do mês seguinte. Trabalhava tanto que não tinha tempo para fazer mais nada. Trabalhava de dia e trabalhava de noite. Até tarde.

Um dia, saturada, a formiga decidiu pôr termo àquela situação. Pelo menos pedir um time-out. O Inverno já tinha chegado há muito, estava mesmo já perto do fim, o frio é que estava ainda para durar, e a formiga, embora não tivesse lá muitos problemas de abastecimento, estava longe de ter a arrecadação cheia e poder dormir, descansada, no seu refúgio.

Chegado o Carnaval, a formiga procurou uma fantasia apropriada. Pensou, pensou e decidiu «fantasiar-se de sensatez, vestir-se de executiva, afivelar uma máscara de paciência, dançar ao som de ponderação, fingir que era calculista». Enquanto procurava uma fantasia que se enquadrasse no caderno de encargos, quero dizer, nos critérios previamente estabelecidos para o Carnaval, e que não permitisse, a ninguém, reconhecê-la, caiu-lhe em cima uma caixa que se encontrava numa das prateleiras mais altas. Ai, a caixa era pesada, caiu ao chão e a tampa soltou-se.

Dentro estava uma fantasia que parecia feita de encomenda para o estado de espírito da formiga. Experimentou-a. «É isto mesmo». Agora a formiga tinha a certeza de que já podia dançar durante todo o Carnaval e que ninguém, provavelmente nem mesmo ela própria, iria reconhecê-la.

E o melhor é que para além de dançar poderia até cantar.

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 12:30
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Sambar ou Dançar?
 
No primeiro desfile, sambei. No segundo, não sei se dançarei!

Maria


posted by: 1 dos 2 / 10:44
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004



Curriculum vitae
 
Tive que actualizar o meu cv. Lembrei-me de algo que li há muito. Procurei, procurei e encontrei:

Se depois de eu morrer quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus.

Alberto Caeiro


posted by: 1 dos 2 / 08:52
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2004



O Meu Refúgio
 
Há 8 anos atrás mudei de casa. Aliás, mudei de vida. A casa veio por arrasto.

São 63 m2. 3 pisos. 44 degraus do carro à cama. Perguntarão, como muitos me perguntaram, porquê que eu a comprei. A resposta podia ser longa, mas é bem mais bonita de ler no trecho publicado pelo Manuel do livro do José Rodrigues Miguéis.

Das várias alterações – as possíveis em tão poucos metros quadrados – aproveitei o vão do telhado para incluir espaço habitável nas águas furtadas. E foi isso que eu senti, foi isso que eu previ que ia sentir; …”da minha água-furtada e meu refúgio…”

De lá, não posso olhar a Avenida de cima; porque não existe Avenida e a Rua não passa de Travessa. O espaço que “conquistei” não dá para albergar mais do que a minha cama à qual tive inclusive de cortar os pés para enganar a proporção de um pé-direito abaixo de qualquer regulamento em vigor.

Mas é aquele espaço, o meu refúgio, onde durmo mais perto das estrelas, onde o aconchego me abraça nas noites de invernia ao som da chuva que bate bem por cima de mim, lá fora. Onde me chega o cheiro das flores e da terra quente quando o Verão aperta e durmo de janela aberta ou onde, deitada, me delicio com a visão dos relâmpagos nas noites de trovoada.

Os dias têm passado devagar mas os anos vão-se depressa.

E um dia vou ter saudades da minha água-furtada, do meu refúgio.

Maria


posted by: 1 dos 2 / 19:31
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Saudades
 
Enquanto uns sambam, eu...

Ponho-me a olhar a Avenida cá de cima, da minha água-furtada e meu refúgio, e digo-lhe, seu Apolinário: tudo isto levou uma grande volta. Antigamente vivia-se aqui como num céu aberto. Nem faz ideia. Onde isso vai, parece que não, os dias passam devagar, mas os anos vão-se depressa. A gente só dá por isso quando já não há remédio.

Foi nos tempos da República, e eu, de calção, com os sapatos nas poças da chuva, travava os primeiros corpo a corpo com a gramática latina e com o verbo Amar. A Avenida era então novinha em folha, como o regime. Começava lá em baixo, num boqueirão sinistro, um rio de lama onde às vezes havia inundação e gritos, entre ribanceiras e prédios esguios, e ia-se perder ao alto, nas quintas e azinhagas.


Saudades para Dona Genciana
José Rodrigues Miguéis



posted by: 1 dos 2 / 11:59
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004



É Carnaval, ninguém leva a mal
 
Depois de muito pensar, já decidi de que me vou fantasiar este ano.

Vou mascarar-me de sensatez, vestir-me de executiva, afivelar uma máscara de paciência, dançar ao som de ponderação, fingir que sou calculista.

E são dois desfiles numa só semana; um na 4ª e outro na 6ª feira. O que vale é que já tive dois ensaios gerais, enquanto estava tudo de férias, enquanto o Manuel recarregava baterias, arejava o fatos e deixava o blog entregue às minha mãos.

Toma agora tu o comando que eu …vou ter que sambar!

Ninguém me vai reconhecer. Nem eu.

Maria


posted by: 1 dos 2 / 11:33
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A temperatura da água
 
Sem televisão, sem internet, sem pensar em blogar, o blogue está (sempre) em boas mãos, sem notícias, sem me preocupar com elas, com as notícias, com o telemóvel silencioso, reservado o direito de resposta, sem fazer a barba, sem ter de pôr gravata, com os fatos a limpar a seco. Despertador? Eu disse que ia sair de férias, não disse?

Pois então, descanso, por definição, com Sol, enfim, nem sempre, com alguma praia. Água mais quente do que em qualquer praia do Algarve no Verão mas mesmo assim fria. Ter crescido, literalmente, nas praias de Luanda, deve ter causado alguma mutação genética, água de mar a menos de 25º Celsius, naquele tempo eram centígrados, é ambiente hostil. Mas o calorzinho do Sol e o cheirinho a maresia chegaram para um reset progressivo e saudável. Sem radicalismos.

As doses de control-alt-del estavam a atingir níveis preocupantes.

Com o regresso à civilização fiquei a saber que vêm aí melhores dias. Anunciou-o, com autoridade, um Ministro da República, ele terá concerteza informações a que eu não tenho acesso.

Assim até vale a pena saír de férias.

Agora posso sentar-me e sorver calmamente os posts da Maria.

Manuel



posted by: 1 dos 2 / 08:04
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Regresso
 
Reassumi o meu posto.

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 08:04
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2004



De Ressaca
 
Depois de uma semana de “emoções fortes”, com os amigos próximos em férias – ainda não percebi o que é que deu a toda a gente para de repente ir tudo para fora!! – inicio uma nova semana com um espírito estranhamente tranquilo.

A propósito do meu texto “A rendição”, recebo um sinal que alguém algures, respira e mexe. Enviaram-me um texto lindíssimo, da autoria de Luiz Fernando Veríssimo: “Quase”.

Para quem conhece o texto e para os que me conhecem, saberão que a minha natureza – há quem diga que não é defeito, é feitio! – não convive bem com o “quase”, com a prudência que nos leva a ser calculistas, com a economia de emoções. Talvez por isso, por muitas vezes tentar contrariar essa minha forma de ser, por achar que a razão se deve sobrepor à emoção, foi um bálsamo ler algumas frases de alguém que escreve assim:

”Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si”…

…”Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados”…

…”De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você”…


Desconfiar do destino, do acaso, da sorte e do azar, isso já é dado adquirido; acreditar em nós… aí está um bom desafio!

Maria


posted by: 1 dos 2 / 12:44
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sábado, 14 de fevereiro de 2004



Haja Paciência
 
Anda aqui uma mocinha a tentar organizar-se, a tentar contactar os amigos que foram todos de férias - é sempre assim - a chatear os poucos que estão por perto - que, diga-se, foram incansáveis - a gastar saliva e neurónios numa tentativa de equacionar os cenários possíveis que lhe poderão ser apresentados, a dormir mal - que isto de decidir não é fácil!- para quê?

Para aceitar fazer uma reunião im-por-tan-tís-si-ma, a um Sábado às 7 da tarde, na qual basicamente se repetiu tudo aquilo que já tinha sido dito na anterior...!

E depois queixam-se que trabalham fora de horas!! Pudera! Se forem assim com tudo, as 24h do dia não chegam, aí lá isso não!

Haja paciência! Eu diria ainda mais: não há c* que aguente!

Maria


posted by: 1 dos 2 / 23:01
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004



A Rendição
 
Post dedicado a “Moi”

Foi tudo de férias; o Manuel, a Mosca, fora todos os outros que não pertencem a esta blogosfera.

Ficámos só eu e Moi. Quase me deixei vencer pela inércia de pousar a caneta. Mas por ti, aqui ficam umas linhas e o meu agradecimento pelas palavras de incentivo.

Deixo porém um aviso: neste momento não estou grande companhia. Valores pouco interessantes, tão sérios quanto chatos, se levantam.




A Rendição

Há cerca de 3 anos atrás, contingências da vida obrigaram-me de novo a dar uma volta na minha profissão.

Foi duro. De repente senti-me no trapézio sem rede. A adrenalina já fazia parte do meu dia-a-dia, e tal como uma droga, que visceralmente se odeia, “agarra” e deixa-nos dependentes. Sem a “dose” entra-se em ressaca.

Sofri. Doeu. Deprimi. Custou…mas finalmente ultrapassei!

Consegui passar a olhar para os que continuaram nesse frenesim, sem sentir “aquela” pontinha de inveja. E pela primeira vez na minha vida adulta, descobri que havia tantas coisas interessantes a que nunca tinha dado atenção e o justo valor. O valor de ter tempo para mim, para os outros, para fazer coisas que nunca se tem tempo para fazer, para me dedicar a descobrir que a vida não começa e acaba entre as horas em que se começa e se acaba de trabalhar – e que normalmente se aproveita para dormir para recomeçar o mesmo ritmo no dia seguinte. Tempo para pensar, não só pensar em questões e problemas profissionais. Pensar ponto.

Obviamente não será muito rentável financeiramente, dirão. Não, de facto não é. Mas também a isso me habituei. O valor que aprendi a dar a tudo que tinha deixado passar ao lado “porque não tinha tempo” compensava alguma perda no consumo de valores materiais. O que mais me custou, confesso, foi renunciar às viagens de lazer que, afirmo, é dos melhores prazeres que a vida pode oferecer.

O “cerco” apertou. Numa sociedade dita de “direito”, não há lugar para alguém que decide que não quer ganhar mundos e fundos, que não quer pagar o preço para ser considerado “uma pessoa de sucesso”, ter no mínimo dois telemóveis – para poderem tocar ao mesmo tempo, só pode! – aproveitar as esperas entre 2 voos, sacar do portátil e adiantar mais um relatório ou preparar a próxima reunião, tomar o pequeno almoço no Porto, uma “bica” de passagem em Lisboa e déjeuner em Paris ou Frankfurt. Se for mesmo um verdadeiro executivo ainda chega a tempo para uma reunião de última hora em Madrid antes do último voo de regresso a casa.

Passei a ser olhada de forma diferente pelos outros. Às vezes parecia que lhes lia os pensamentos género: “Coitada! Quem a viu e quem a vê!” Pena que eles não pudesse ler os meus, tipo: “Olha como eu já fui! Se soubesses a figura que fazes, se imaginasses o que é conseguir sair desse carrossel que anda à roda depressa, muito depressa, para nos levar a lugar nenhum!!”

Como eu dizia, não há lugar nesta sociedade para um “híbrido” como eu. Não tenho um emprego mas não sou desempregada, trabalho mas não tenho projecção, tenho um curso superior sem equivalência em valor de rendimentos de IRS ou IRC, vivo numa zona chique da cidade mas não ocupo mais do que 70m2 (em altura!), conduzo um carro alemão mas tem 8 anos e quase 150.000 km… conclusão: os amigos não percebem, os colegas não respeitam, a família preocupa-se, a ministra das finanças não acredita!

Surge um contacto, uma proposta de trabalho. Não é o que eu quero fazer, não é o que eu gostaria de voltar a fazer, mas… “olha que pagam bem!”

E eu… que faço? Aquilo que esperam de mim: rendo-me!


Maria


posted by: 1 dos 2 / 23:22
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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004



Help!
 
Onde é que se meteram todos quando eu preciso de vocês?

Allô?!

Is anybody in? Is anybody in? Is anybody in?

WAKE UP!!


(onde é que eu já ouvi isto?)


Maria


posted by: 1 dos 2 / 18:26
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Tradução
 
interim :do Lat. interim

s. m.,
qualidade daquilo que é interino;
tempo intermédio.

loc. adv.,
neste —: entretanto, entrementes.


Ou seja, nada de confundir com:

eterno: do Lat. aeternu

adj.,
que não tem princípio nem fim;
que não tem fim;
inalterável;


Desejo-te boas férias, Manuel. Vai... MAS VOLTA!

Maria


posted by: 1 dos 2 / 12:57
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004



Férias
 
Uma das palavras mais interessantes que conheço. Vou dedicar-me a ela e dar-lhe toda a atenção durante uns dias.

A Maria fica encarregada do blog ad interim.

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 15:52
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Estatísticas
 
As escolas secundárias portuguesas têm, em média, um computador para cada 14 alunos. Estarão muito abaixo dos "padrões" europeus que, confesso, nem sei por onde andam, mas serão, provavelmente, muito melhores que os nossos, senão quem é que se incomodaria com uma notícia destas.

A mim, não me parece mal de todo. Admitindo que cada computador possui um teclado e que este tem mais de 100 teclas, dá qualquer coisa como 1 – 2 teclas por aluno, com boa vontade. E ainda sobra o rato.

Portugal cresceu quase 300% nos últimos 30 anos. É assim uma espécie de record mundial. Não importa que o ponto de partida tivesse sido mais negativo que a temperatura média de Inverno de Novosibirsk.

Se as nossas escolas tivessem tido mais computadores, e mais cedo, não me admiraria se o Governo português andasse para aí agora a aterrorizar ditadores por esse mudo fora…

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 11:05
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sábado, 7 de fevereiro de 2004



Conto duma noite de Verão
 
O meu Manuel faz-me lembrar o outro, o outro Manuel que se escreve com “o” e que assina de apelido Oliveira. Com a devida diferença de idades, produzem os dois que até incomoda!!

Eu, mais modesta, não o acompanho nem em assiduidade, actualidade ou qualidade de conteúdo. Gosto de divagar, de falar de coisas menos terrenas, de me entregar a memórias ou reflexões mais etéreas. É nessa condição, vasculhando no meu “baú de escritos passados”, que encontrei um esquecido e antigo. Antigo mas não desactualizado. Partilho-o aqui.


"Se alguém lhe pedisse para definir em poucas palavras, como aliás convém neste tipo de definições idiotas, "o que é ser só?", poderia responder muito rapidamente: "Ir ao cinema sozinha, numa 6ª feira à noite".
Di-lo-ia sem amargura, até mesmo com alguma ironia bem-humorada.

Os amigos próximos partem de férias, os outros, os de ocasião, desaparecem tão rapidamente como chegaram… sem aviso! De repente vê-se só.

O estado de espírito é sereno. Dá por terminado o dia de trabalho. Sai do escritório depois de declinar um convite para jantar fora com um grupo simpático mas pouco interessante. Irremediavelmente exigente, ainda não é qualquer um ou qualquer coisa que lhe basta.

Calmamente vai para casa, prepara uma refeição ligeira; pega de novo no carro e dirige-se para o cinema. Declara orgulhosamente "um bilhete para a sala 2, por favor". Faltam 5 minutos para a hora da sessão.

É a única pessoa, homem ou mulher, sem companhia. Não é um filme particularmente interessante mas deixa-se envolver durante 2h grata por não ter que pensar em mais nada. Quando sai já passa da meia-noite, início de actividade para os noctívagos que ainda restam na cidade antes do êxodo total típico de Verão.

Sintoniza uma estação de rádio que passa música dos anos 70 e, com o volume no máximo, a cantar ao mesmo tempo as letras de que ainda se lembra do seu tempo de adolescente, vagueia pela cidade durante uma hora, só pelo prazer de guiar e de "curtir" a sua própria companhia.

Ficou com vontade de repetir; ajudou-a a encontrar-se de novo consigo própria sem ter que se “cansar”, ser simpática ou manter conversa com alguém.

Finalmente sabe que, apesar de sozinha, não sente o que a terrível palavra "solidão" provoca.


Maria - (Julho de 1998)


posted by: 1 dos 2 / 16:18
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004



Relações
 
A SAD do FCP cortou relações com a SAD do SCP. Só por si um acontecimento singular, ímpar, espelho da paixão que os portugueses têm pelo futebol. A partir de agora, diz o Presidente do FCP, relações com o SCP só na barra dos tribunais.

Os lugares que esta gente escolhe para ter relações...

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 11:11
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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2004



Vida em Marte
 
Sobre os comportamentos perigosos, diz a mosca que «os que cá estão já são mais do que a conta, mesmo em termos absolutos». Vai daí, continua a mosca, antes de voar, «não há lugar para mais; overbooking, sorry». Nem para Marte. «Continente desconhecido ou terra prometida», o planeta vermelho (encarnado, corrigirão os adeptos do Benfica) poderia muito bem servir para acolher todos aqueles que tiverem comportamentos dignos de cartão da mesma cor. A Austrália não foi colónia penal do Império onde o Sol nunca se punha e agora quase nem Sol tem?

Fica caro e não dá para esperar até os norte-americanos lá chegarem? Not to worry mate, até lá, o Governo teve outra ideia: proibe-se a entrada nos estádios de futebol de quem causar distúrbios. Ideia genial. É por não ter ideias assim (nem amigos nos lugares certos) que eu nunca poderei aspirar a um cargo de Secretário de Estado.

Diz quem parece ter recebido um mandato do próprio D. Afonso Henriques que os respeitadores, pacatos e trabalhadores habitantes de Guimarães (como de resto todos os outros portugueses de brandos costumes, acrescento eu) têm direito à indignação.

Permita-se pois que, primeiro, se parta tudo em batalhas campais. Entretanto, os polícias de intervenção poderão acabar de comer a refeição quente a que têm direito. Sofisticados equipamentos de vigilância (Maria, os que ainda não estão montados devem chegar a tempo, o prazo de entrega era para… ontem) registarão as manifestações de indignação. Depois, confortados com representativos pratos da gastronomia regional, os agentes da autoridade poderão sentar-se em frente à televisão e identificar, um por um, todos os que estavam indignados e os que, sem razão aparente, arrancaram cadeiras e/ou olhos.

Simples. Como é que eu não pensei nisto antes?

Manuel (com a ajuda precisosa da mosca).


posted by: 1 dos 2 / 10:56
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2004



Comportamentos perigosos
 
O Governo está, em conjunto com os países que participam na fase final do Euro 2004, a preparar listas de adeptos com comportamentos perigosos, a fim de que estes sejam impedidos de entrar em território nacional (Público, 3/2/2004).

Desculpem lá, eu realmente não queria estar a ser picuínhas mas… o que é que se faz aos que nós já cá temos?

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 13:07
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Os Prazos
 
É conhecido, discutido, criticado, apontado e outros “ados” a falha genética que os portugueses têm para o cumprimento dos prazos.

Talvez por isso me acontece por vezes estar perante situações, eu diria no mínimo, caricatas.

Senão vejamos:

Alguém decide lançar uma obra.
O raciocínio começa com a ideia peregrina de pôr o calendário a andar ao contrário: “Eu quero inaugurar dia X, logo vou dizer aos candidatos à sua construção que a obra tem que estar concluída uns dias antes”. E porque já sabem que não podem confiar nos prazos… pimba! Há que antecipar 15 dias à data real.

A seguir é a vez destes últimos começarem a consultar os fornecedores. Como portugueses que são, sabem que estes também não cumprem prazos. Exigem logo que tudo tem que estar em obra alguns dias antes do prazo limite que lhes impuseram. Como não sabem a história toda… pimba! Há que antecipar, digamos… 15 dias.

Continuando nesta escalada, sempre da frente para trás, e dependendo o número de entidades a consultar da maior ou menor complexidade da referida obra, eis que chega finalmente a vez daquele que deverá ser o responsável pela criação da dita, aquele que tem que ouvir o que o cliente pretende, analisar as condicionantes, estudar o local, compreender a lógica do programa, discutir pormenorizadamente as questões que vai ter que coordenar com as diferentes especialidades, em suma… dar vida ao que irá ser o produto final. Isto para nem falar, para além de tudo o que referi, daquilo que não é mensurável ou possível de quantificar, como a dose de inspiração ou o “trauma da folha em branco”!

E é nessas alturas, com o “staff” todo reunido, as contas e as previsões feitas, com toda a gente sentada à volta da mesa, que se põe a fatídica questão:

arquitecto: - “Muito bem, meus senhores, e perante a vossa análise exaustiva, quando é que temos que entregar o nosso projecto?

(pausa para sacar das folhas Excel, diagramas, calendários, palms, máquinas de calcular… mais outra pausa para voltar a fazer contas - uma vez mais da frente para trás! -)

E, triunfantes, com uma voz grave e firme, anunciam:

- “Bem! Pelas nossas contas, o vosso prazo de entrega terá que ser impreterivelmente até… ontem!”


Maria


posted by: 1 dos 2 / 02:08
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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004



Mais rápido que a luz
 
O livro do físico teórico português João Magueijo. Sobre a velocidade da luz, que afinal não terá sido sempre constante. Leio e penso como um tema como estes pode ser descrito quase como se fosse um romance, e o “E”, o “m” e o “c” como se fossem os personagens: o "E" é energético, o "m" é pesado, o "c", para além de inconstante é esquizofrénico. O tempo que eu perdi com aquilo na faculdade...

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 10:32
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