Era uma vez uma formiga trabalhadora. Mais do que qualquer outra formiga que eu conheço. Não o fazia para se precaver das dificuldades no Inverno. Trabalhava para não ter problemas no fim do mês, ou, o mais tardar, no início do mês seguinte. Trabalhava tanto que não tinha tempo para fazer mais nada. Trabalhava de dia e trabalhava de noite. Até tarde.
Um dia, saturada, a formiga decidiu pôr termo àquela situação. Pelo menos pedir um time-out. O Inverno já tinha chegado há muito, estava mesmo já perto do fim, o frio é que estava ainda para durar, e a formiga, embora não tivesse lá muitos problemas de abastecimento, estava longe de ter a arrecadação cheia e poder dormir, descansada, no seu refúgio.
Chegado o Carnaval, a formiga procurou uma fantasia apropriada. Pensou, pensou e decidiu «fantasiar-se de sensatez, vestir-se de executiva, afivelar uma máscara de paciência, dançar ao som de ponderação, fingir que era calculista». Enquanto procurava uma fantasia que se enquadrasse no caderno de encargos, quero dizer, nos critérios previamente estabelecidos para o Carnaval, e que não permitisse, a ninguém, reconhecê-la, caiu-lhe em cima uma caixa que se encontrava numa das prateleiras mais altas. Ai, a caixa era pesada, caiu ao chão e a tampa soltou-se.
Dentro estava uma fantasia que parecia feita de encomenda para o estado de espírito da formiga. Experimentou-a. «É isto mesmo». Agora a formiga tinha a certeza de que já podia dançar durante todo o Carnaval e que ninguém, provavelmente nem mesmo ela própria, iria reconhecê-la.
E o melhor é que para além de dançar poderia até cantar.