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'Tou que nem posso


... graças e desgraças


sábado, 7 de fevereiro de 2004



Conto duma noite de Verão
 
O meu Manuel faz-me lembrar o outro, o outro Manuel que se escreve com “o” e que assina de apelido Oliveira. Com a devida diferença de idades, produzem os dois que até incomoda!!

Eu, mais modesta, não o acompanho nem em assiduidade, actualidade ou qualidade de conteúdo. Gosto de divagar, de falar de coisas menos terrenas, de me entregar a memórias ou reflexões mais etéreas. É nessa condição, vasculhando no meu “baú de escritos passados”, que encontrei um esquecido e antigo. Antigo mas não desactualizado. Partilho-o aqui.


"Se alguém lhe pedisse para definir em poucas palavras, como aliás convém neste tipo de definições idiotas, "o que é ser só?", poderia responder muito rapidamente: "Ir ao cinema sozinha, numa 6ª feira à noite".
Di-lo-ia sem amargura, até mesmo com alguma ironia bem-humorada.

Os amigos próximos partem de férias, os outros, os de ocasião, desaparecem tão rapidamente como chegaram… sem aviso! De repente vê-se só.

O estado de espírito é sereno. Dá por terminado o dia de trabalho. Sai do escritório depois de declinar um convite para jantar fora com um grupo simpático mas pouco interessante. Irremediavelmente exigente, ainda não é qualquer um ou qualquer coisa que lhe basta.

Calmamente vai para casa, prepara uma refeição ligeira; pega de novo no carro e dirige-se para o cinema. Declara orgulhosamente "um bilhete para a sala 2, por favor". Faltam 5 minutos para a hora da sessão.

É a única pessoa, homem ou mulher, sem companhia. Não é um filme particularmente interessante mas deixa-se envolver durante 2h grata por não ter que pensar em mais nada. Quando sai já passa da meia-noite, início de actividade para os noctívagos que ainda restam na cidade antes do êxodo total típico de Verão.

Sintoniza uma estação de rádio que passa música dos anos 70 e, com o volume no máximo, a cantar ao mesmo tempo as letras de que ainda se lembra do seu tempo de adolescente, vagueia pela cidade durante uma hora, só pelo prazer de guiar e de "curtir" a sua própria companhia.

Ficou com vontade de repetir; ajudou-a a encontrar-se de novo consigo própria sem ter que se “cansar”, ser simpática ou manter conversa com alguém.

Finalmente sabe que, apesar de sozinha, não sente o que a terrível palavra "solidão" provoca.


Maria - (Julho de 1998)


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