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'Tou que nem posso


... graças e desgraças


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004



A Rendição
 
Post dedicado a “Moi”

Foi tudo de férias; o Manuel, a Mosca, fora todos os outros que não pertencem a esta blogosfera.

Ficámos só eu e Moi. Quase me deixei vencer pela inércia de pousar a caneta. Mas por ti, aqui ficam umas linhas e o meu agradecimento pelas palavras de incentivo.

Deixo porém um aviso: neste momento não estou grande companhia. Valores pouco interessantes, tão sérios quanto chatos, se levantam.




A Rendição

Há cerca de 3 anos atrás, contingências da vida obrigaram-me de novo a dar uma volta na minha profissão.

Foi duro. De repente senti-me no trapézio sem rede. A adrenalina já fazia parte do meu dia-a-dia, e tal como uma droga, que visceralmente se odeia, “agarra” e deixa-nos dependentes. Sem a “dose” entra-se em ressaca.

Sofri. Doeu. Deprimi. Custou…mas finalmente ultrapassei!

Consegui passar a olhar para os que continuaram nesse frenesim, sem sentir “aquela” pontinha de inveja. E pela primeira vez na minha vida adulta, descobri que havia tantas coisas interessantes a que nunca tinha dado atenção e o justo valor. O valor de ter tempo para mim, para os outros, para fazer coisas que nunca se tem tempo para fazer, para me dedicar a descobrir que a vida não começa e acaba entre as horas em que se começa e se acaba de trabalhar – e que normalmente se aproveita para dormir para recomeçar o mesmo ritmo no dia seguinte. Tempo para pensar, não só pensar em questões e problemas profissionais. Pensar ponto.

Obviamente não será muito rentável financeiramente, dirão. Não, de facto não é. Mas também a isso me habituei. O valor que aprendi a dar a tudo que tinha deixado passar ao lado “porque não tinha tempo” compensava alguma perda no consumo de valores materiais. O que mais me custou, confesso, foi renunciar às viagens de lazer que, afirmo, é dos melhores prazeres que a vida pode oferecer.

O “cerco” apertou. Numa sociedade dita de “direito”, não há lugar para alguém que decide que não quer ganhar mundos e fundos, que não quer pagar o preço para ser considerado “uma pessoa de sucesso”, ter no mínimo dois telemóveis – para poderem tocar ao mesmo tempo, só pode! – aproveitar as esperas entre 2 voos, sacar do portátil e adiantar mais um relatório ou preparar a próxima reunião, tomar o pequeno almoço no Porto, uma “bica” de passagem em Lisboa e déjeuner em Paris ou Frankfurt. Se for mesmo um verdadeiro executivo ainda chega a tempo para uma reunião de última hora em Madrid antes do último voo de regresso a casa.

Passei a ser olhada de forma diferente pelos outros. Às vezes parecia que lhes lia os pensamentos género: “Coitada! Quem a viu e quem a vê!” Pena que eles não pudesse ler os meus, tipo: “Olha como eu já fui! Se soubesses a figura que fazes, se imaginasses o que é conseguir sair desse carrossel que anda à roda depressa, muito depressa, para nos levar a lugar nenhum!!”

Como eu dizia, não há lugar nesta sociedade para um “híbrido” como eu. Não tenho um emprego mas não sou desempregada, trabalho mas não tenho projecção, tenho um curso superior sem equivalência em valor de rendimentos de IRS ou IRC, vivo numa zona chique da cidade mas não ocupo mais do que 70m2 (em altura!), conduzo um carro alemão mas tem 8 anos e quase 150.000 km… conclusão: os amigos não percebem, os colegas não respeitam, a família preocupa-se, a ministra das finanças não acredita!

Surge um contacto, uma proposta de trabalho. Não é o que eu quero fazer, não é o que eu gostaria de voltar a fazer, mas… “olha que pagam bem!”

E eu… que faço? Aquilo que esperam de mim: rendo-me!


Maria


posted by: 1 dos 2 / 23:22
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