É conhecido, discutido, criticado, apontado e outros “ados” a falha genética que os portugueses têm para o cumprimento dos prazos.
Talvez por isso me acontece por vezes estar perante situações, eu diria no mínimo, caricatas.
Senão vejamos:
Alguém decide lançar uma obra.
O raciocínio começa com a ideia peregrina de pôr o calendário a andar ao contrário: “Eu quero inaugurar dia X, logo vou dizer aos candidatos à sua construção que a obra tem que estar concluída uns dias antes”. E porque já sabem que não podem confiar nos prazos… pimba! Há que antecipar 15 dias à data real.
A seguir é a vez destes últimos começarem a consultar os fornecedores. Como portugueses que são, sabem que estes também não cumprem prazos. Exigem logo que tudo tem que estar em obra alguns dias antes do prazo limite que lhes impuseram. Como não sabem a história toda… pimba! Há que antecipar, digamos… 15 dias.
Continuando nesta escalada, sempre da frente para trás, e dependendo o número de entidades a consultar da maior ou menor complexidade da referida obra, eis que chega finalmente a vez daquele que deverá ser o responsável pela criação da dita, aquele que tem que ouvir o que o cliente pretende, analisar as condicionantes, estudar o local, compreender a lógica do programa, discutir pormenorizadamente as questões que vai ter que coordenar com as diferentes especialidades, em suma… dar vida ao que irá ser o produto final. Isto para nem falar, para além de tudo o que referi, daquilo que não é mensurável ou possível de quantificar, como a dose de inspiração ou o “trauma da folha em branco”!
E é nessas alturas, com o “staff” todo reunido, as contas e as previsões feitas, com toda a gente sentada à volta da mesa, que se põe a fatídica questão:
arquitecto: - “Muito bem, meus senhores, e perante a vossa análise exaustiva, quando é que temos que entregar o nosso projecto?
(pausa para sacar das folhas Excel, diagramas, calendários, palms, máquinas de calcular… mais outra pausa para voltar a fazer contas - uma vez mais da frente para trás! -)
E, triunfantes, com uma voz grave e firme, anunciam:
- “Bem! Pelas nossas contas, o vosso prazo de entrega terá que ser impreterivelmente até… ontem!”