E assim, lá foi a nossa formiguinha para o 4º desfile. Já estava um bocadito cansada de tanto ensaiar.
Mais habituada a trabalhar do que a pavonear-se para a assistência, olhou para o calendário e viu que o Carnaval já tinha acabado. Mais tarde ou mais cedo todos iriam ver que debaixo da máscara, não ia estar uma cigarra arrogante, que prometia mais do que aquilo que podia oferecer, que embora achasse que podia cantar nunca o havia feito para uma plateia oficial. É que cantar para os amigos não é curriculum suficiente para provar que se é capaz.
Antes que lhe voltassem a pedir para enumerar os desfiles em que já tinha participado, a formiga inspirou fundo, fez peito, arrancou a máscara da paciência, rasgou o fato da fantasia, esqueceu a ponderação e cantou ao desafio:
Querem que dance, eu dançarei,
Que de musica entendo eu
Querem que cante, eu cantarei.
Afinar será problema meu.
Se me quiserem aqui estou
Porque esta, assim eu sou.
Se não vos convenço, escutem só
Digo apenas e sem dó
Digo apenas desculpem lá
Ao meu formigueiro volto já.