Há 8 anos atrás mudei de casa. Aliás, mudei de vida. A casa veio por arrasto.
São 63 m2. 3 pisos. 44 degraus do carro à cama. Perguntarão, como muitos me perguntaram, porquê que eu a comprei. A resposta podia ser longa, mas é bem mais bonita de ler no trecho publicado pelo Manuel do livro do José Rodrigues Miguéis.
Das várias alterações – as possíveis em tão poucos metros quadrados – aproveitei o vão do telhado para incluir espaço habitável nas águas furtadas. E foi isso que eu senti, foi isso que eu previ que ia sentir; …”da minha água-furtada e meu refúgio…”
De lá, não posso olhar a Avenida de cima; porque não existe Avenida e a Rua não passa de Travessa. O espaço que “conquistei” não dá para albergar mais do que a minha cama à qual tive inclusive de cortar os pés para enganar a proporção de um pé-direito abaixo de qualquer regulamento em vigor.
Mas é aquele espaço, o meu refúgio, onde durmo mais perto das estrelas, onde o aconchego me abraça nas noites de invernia ao som da chuva que bate bem por cima de mim, lá fora. Onde me chega o cheiro das flores e da terra quente quando o Verão aperta e durmo de janela aberta ou onde, deitada, me delicio com a visão dos relâmpagos nas noites de trovoada.
Os dias têm passado devagar mas os anos vão-se depressa.
E um dia vou ter saudades da minha água-furtada, do meu refúgio.