Acho que não estou a exagerar quando afirmo que acabo de viver um dos momentos mais bonitos de amizade que provam que afinal vale a pena… vale a pena continuar a ser a contestatária, a rebelde, a má consciência, a inconformada, a irreverente, a exigente, a incómoda, em suma “a chata”.
Quando te ouvi a “zunir” à minha volta, pensei: “Oh! Só me faltava esta agora! Não posso distrair-me um minuto, entreabir um bocadinho que seja, a janela da minha casa, para entrar a achar que foi convidada”.
Mas, reconsiderei… afinal já nos conhecemos há tantos anos, se entraste foi porque sentiste que nesta minha casa nunca serás uma intrusa. E sim, é verdade que fui eu quem abriu a janela. Dalguma forma, talvez até inconscientemente, devo tê-lo feito para que tu, se estivesses atenta no meio dum dos teus voos frenéticos de passagem rasante à minha janela, reparasses que esta estava aberta , te apetecesse entrar, resolvesses ter um tempinho para me fazer uma visita…
Se alguma vez dei a impressão que estavas a devassar a minha intimidade… Ora! Já me conheces, no dia em que isso acontecesse estavas a levar com uma dose de Sheltox, em cheio entre os olhos!
Bzzz! Bzzz!
Admito, admito que demonstro que os meus princípios e valores são dissonantes com o “livro adoptado”; daí a serem propositadamentediferentes…Ora! Já passei a idade da contestação só pela contestação.
Indiferente às regras dos Homens? Essa é forte! E eu a achar que podia ser antes considerada Crítica às regras impostas…
Respeitadora das regras de Deus? Se o sou, é coincidência porque não as conheço.
E já agora, mais uma coisa: eu sou sobretudo intolerante (leia-se: exigente) com as pessoas de quem mais gosto. Com os outros? Quero é que tenham muitos filhos com óculos…!
Não é assim tão importante para mim, como parece ser para ti e para os com que me querem bem, responder-te se estou à espera de ser feliz se continuar assim. Não o seria com toda a certeza se baixasse o braços e desistisse. Isso já não seria estar aqui, era mais passar por cá, - sei lá, cheguei!
Nem se trata de separar o mundo em classes estanques, os leves para um lado e os pesados para o outro. Todos têm direito ao seu espaço e às suas escolhas, da mesma forma que também me assiste o direito de escolher como e com quem me apetece estar.
E isso dá-me o conforto de saber que posso dar o ar da minha graça sem que isso implique necessariamente momentos ocos ou vazios, de me sentir num plano superior- outra dessas e levas mesmo com o Sheltox!!!
E finalmente; fico triste por constatar que a minha resistência à tentação de “me deixar ir com a onda” pode redundar num acto de egoísmo da minha parte por, sem querer, não conseguir partilhar mais com os outros e sobretudo por ter criado junto deles expectativas que agora não consigo atingir.
Há coisas que me vou permitindo a mim própria dizer; uma delas é ter algumas máximas. A que agora eu prefiro é:
Sei que não posso mudar o mundo, mas o mundo também não vai conseguir mudar-me.
Se quiseres podes usar essa frase um dia; em vez de explicares às pessoas que eu teimei toda a minha vida em ser o pilar duma estrutura que só existia no meu imaginário, sempre é mais sintético escrever:
“Aqui jaz alguém que não conseguiu mudar o mundo…
P.S. Ela manda dizer que o mundo também não a conseguiu mudar!”