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'Tou que nem posso


... graças e desgraças


terça-feira, 9 de setembro de 2003



'Tou mesmo que nem posso
 
A vida gosta de jogar connosco um jogo difícil. De que , a maior parte das vezes, desconhecemos as regras e muito menos o objectivo. Jogamos porque gostamos de jogar, ou muito simplesmente porque não temos escolha.

Esta é a maneira cómoda e descomprometida de interpretar os obstáculos que vamos encontrando no nosso caminho. Evitamos assim assumir uma parte da responsabilidade que nos cabe em tudo o que nos acontece. Torna-se mais fácil, então, aceitar as contrariedades e não assumir que cada pequeno gesto nosso, cria uma reacção que escapa ao nosso controlo.

De todos os perigos que vamos encontrando ao longo do nosso caminho, o mais difícil de aceitar como responsabilidade nossa, é a incapacidade de fazermos felizes aqueles a quem queremos bem. Carrega consigo o peso do nosso fracasso e dói duplamente porque nos magoamos ao magoarmos alguém que faz parte de nós. Não é difícil de aceitar por falta de consciência, é difícil de aceitar porque é o atestado da nossa incompetência emocional e afectiva.

A vida tem realmente muito pouca culpa dos nossos erros. Ela limita-se a escrever a história que cada um de nós vai ditando. O argumento é nosso, e somos tentados muitas vezes a rever o que já dissemos ou fizemos. Para apagar, para contar melhor e com verdade, o que nos parece que ficou pouco claro. Infelizmente, este texto escreve-se com tinta permanente, num livro cujas páginas estão numeradas, e onde as únicas correcções possíveis, são as rasuras ou os parêntesis que isolam linhas de texto que decidimos não querer incluir na história.

Mas nada apaga o facto de que está escrito, de que, em determinada altura, a história assumia outros contornos e a perspectivávamos sob um outro ângulo.

A nossa história não se pode apagar. Pode ser emendada, pode ser corrigida, e é bom que olhemos para as rasuras com carinho, que sejamos capazes de encontrar nas histórias que não quisemos ou não fomos capazes de acabar, as razões das nossas escolhas.

Sejamos capazes de aprender com os caminhos mal escolhidos. Sejamos capazes de perdoar e de conviver com a ideia de que nem sempre tudo tem perdão. Ou melhor, de que a página não pode ser rasgada do livro. Sobretudo se fomos injustos. Sobretudo se embrenhados na nossa história, não percebemos que ela já não era só nossa .Sobretudo se não soubemos amar para além de nós.

Raramente a vida nos prega partidas. Somos nós que a maltratamos, vezes e vezes sem conta, sem lhe reconhecer o valor inestimável que ela tem, e as oportunidades únicas que nos vai dando.

Com toda a humildade de que sou capaz, curvo-me ao peso dos meus gestos, peço perdão à vida e a ti também, meu amor.


S.M.



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