Que está tudo pela hora da morte, já sabemos. São os aumentos da água, do pão, do bife, dos sapatos, do andante. Está tudo caríssimo!
É o custo de vida que é elevado.
Para lhe fazer face, compete-nos trabalhar, produzir, herdar uma boa fortuna ou jogar na lotaria.(Casar rico também dá, mas tem custos indirectos muito elevados)
Mas o que realmente tem um custo difícil de contabilizar é a própria vida : o custo de viver.
Não disse que custa caro viver. Não. A contabilização do custo da vida é que está longe de ser clara, transparente e objectiva. Não é caro, nem é barato. Tem, isso sim, muitas linhas para as duas colunas do “Deve” e do “Haver”.
Fazia este manhã um balanço sintético da minha vida. Preenchi mentalmente linhas intermináveis do ” Deve”, consciente das dívidas que tenho para com a família , os amigos e comigo mesma.
Sobressaltei-me com o número de páginas que acabei preenchendo, preocupada com o saldo final desta conta.(Também já são muitos anos de vida. Menos dos que diz o meu filho, de qualquer maneira!!..)
Mas não me preocupei só no fim. Não. Fui-me preocupando de cada vez que inscrevia um débito, de cada vez que me lembrava de um depósito antecipado, de cada vez que mudava de coluna para reivindicar um Haver.
E concluí que o custo de viver não está explícito, nem sequer implícito, no saldo final. Ele está nesta gestão constante de linhas e colunas. Na capacidade que cada um de nós tem de saber a coluna que está a utilizar em cada momento, bem como de saber viver com os seus deves e haveres.
O custo da vida está na sabedoria e na humildade com que assumimos os nossos “Deve” e a generosidade com que lidamos com os nossos “Haver”.
Dizem os livros que o ideal seria devermos aos nossos credores tanto quanto nos devem os nossos clientes.
Para os certinhos (?) desta vida, e todos aqueles que se podem dar a esse luxo, a coluna do “Deve” está a zeros e têm sempre qualquer coisa a cobrar dos outros.
Para os apaixonados do arame, deve-se muito e cobra-se sempre antecipadamente o que nos devem. É a técnica do depósito antecipado para com os outros. E a do viver por conta, naquilo que nos diz respeito.
Opções contabilísticas à parte, quero pagar: seja cash na hora, a trinta dias, ou até fazer pagamentos por conta; sem nunca fugir às minhas responsabilidades, sem nunca me comprometer para além das minhas posses.
No que me toca, quero que na minha coluna do “Haver “ possam ser inscritos o respeito, a amizade, o amor e o carinho de todos aqueles que são os meus verdadeiros credores.