Em Portugal existem listas de nomes admitidos e não admitidos. Não sabiam? É natural. Os pais “normais” que escolhem nomes “normais” para os seus filhos não têm de o saber. O Conservador não necessita de deitar a mão à lista. Tem-na quase toda memorizada.
Não precisam pois de se preocupar os que gostam de nomes simples, Ana, Joana, Luísa, também há quem goste, Conceição, ainda há quem goste. E até a Rosa pode ter o seu nome de flor. Os papás do Fernando, do Pedro e do Miguel podem todos dormir descansados.
Agora, acreditem ou não, eu poderia, sem quaisquer problemas, chamar ao meu filho, se me nascesse um por esta altura, Abdégano (as contas que ele depois ajustaria comigo não são para aqui chamadas) mas já não poderia, de forma alguma, chamar-lhe Adamastor. Bonito, feio, não interessa, o nome faz parte da nossa história. Ou não? E que acham de Bebiano, Expedito, Genésia, Indalécio, e Janaína? Poderia continuar até ao zê mas acho que posso parar por aqui. Não, desculpem lá, não resisto, digam-me sinceramente o que acham de Neirede, Onildo, Porciana, Primitivo, Principiano, Roquelina, Safira, Sinésio, Tálio, Urânia, Vélia, Xenócrates e Zardilaque?
Querem parar uns segundos para pensar?
Já pensaram?
Pois todos eles, acompanhados da Águeda e do Zaido, da Chantal (de preferência precedido de Maria, o Senhor Conservador insistirá neste ponto) e da Flor (desculpem lá, só como 2º elemento), do Quéli (nem tentem pôr este nome a uma criança do sexo feminino) e do ou da Sáli, poderiam, todos, passear-se com os seus nomes nos respectivos bilhetes de identidade. Todos, mas mesmo todos, constam, orgulhosos, da lista dos admitidos. Águeda, sem pestanejar, receberá, logo, o tão almejado carimbo de aprovação. Mas tentem lá pôr à criança o nome Ofir (que para além de, como Águeda, ser nome de terra portuguesa é, também, nome bíblico) e vão ver o que vos acontece.
Ao Ofir, juntar-se-ão a Ana-Clara, o Domingues, a Felipa, a Heloisa, a Maria Betânia (lamento, só se os dois nomes forem ligados com “de”), o Nuno Álvares (estarei eu enganado ou foi uma das mais importantes figuras ligadas à instauração da dinastia de Avis?), o Paúl, o Rudolfo, a Sabrina e o Tomaz, todos, na clandestinidade. A não ser que tenham a sorte de pelo menos um dos progenitores ser estrangeiro. Nesse caso, vale tudo. Até Clint Eastwood. Senão, sejam Marias e Manuéis – com muito orgulho – ou fiquem-se pelos Expeditos ou pelas Janaínas. Nem a Natalícia, coitada, pode sê-lo, nem mesmo se o nascimento da pequena ocorrer a 24 de Dezembro. Nasça rapaz e o assunto será pacatamente resolvido na Conservatória.
O que vale é que há quem zele pela cultura portuguesa. A começar pelos nomes lusitanos. Puros. Nada mais português do que impedir a todo o custo que um Filipe passe a Felipe. Bastaram três, de triste memória.
É assim mesmo Senhor Consultor de Onomástica. Continue a fazer o seu bom trabalho. Era o que faltava, Rosa poder ser Orquídea.