/>


'Tou que nem posso


... graças e desgraças


terça-feira, 25 de novembro de 2003



O nome da Rosa
 
Em Portugal existem listas de nomes admitidos e não admitidos. Não sabiam? É natural. Os pais “normais” que escolhem nomes “normais” para os seus filhos não têm de o saber. O Conservador não necessita de deitar a mão à lista. Tem-na quase toda memorizada.

Não precisam pois de se preocupar os que gostam de nomes simples, Ana, Joana, Luísa, também há quem goste, Conceição, ainda há quem goste. E até a Rosa pode ter o seu nome de flor. Os papás do Fernando, do Pedro e do Miguel podem todos dormir descansados.

Agora, acreditem ou não, eu poderia, sem quaisquer problemas, chamar ao meu filho, se me nascesse um por esta altura, Abdégano (as contas que ele depois ajustaria comigo não são para aqui chamadas) mas já não poderia, de forma alguma, chamar-lhe Adamastor. Bonito, feio, não interessa, o nome faz parte da nossa história. Ou não? E que acham de Bebiano, Expedito, Genésia, Indalécio, e Janaína? Poderia continuar até ao zê mas acho que posso parar por aqui. Não, desculpem lá, não resisto, digam-me sinceramente o que acham de Neirede, Onildo, Porciana, Primitivo, Principiano, Roquelina, Safira, Sinésio, Tálio, Urânia, Vélia, Xenócrates e Zardilaque?

Querem parar uns segundos para pensar?

Já pensaram?

Pois todos eles, acompanhados da Águeda e do Zaido, da Chantal (de preferência precedido de Maria, o Senhor Conservador insistirá neste ponto) e da Flor (desculpem lá, só como 2º elemento), do Quéli (nem tentem pôr este nome a uma criança do sexo feminino) e do ou da Sáli, poderiam, todos, passear-se com os seus nomes nos respectivos bilhetes de identidade. Todos, mas mesmo todos, constam, orgulhosos, da lista dos admitidos. Águeda, sem pestanejar, receberá, logo, o tão almejado carimbo de aprovação. Mas tentem lá pôr à criança o nome Ofir (que para além de, como Águeda, ser nome de terra portuguesa é, também, nome bíblico) e vão ver o que vos acontece.

Ao Ofir, juntar-se-ão a Ana-Clara, o Domingues, a Felipa, a Heloisa, a Maria Betânia (lamento, só se os dois nomes forem ligados com “de”), o Nuno Álvares (estarei eu enganado ou foi uma das mais importantes figuras ligadas à instauração da dinastia de Avis?), o Paúl, o Rudolfo, a Sabrina e o Tomaz, todos, na clandestinidade. A não ser que tenham a sorte de pelo menos um dos progenitores ser estrangeiro. Nesse caso, vale tudo. Até Clint Eastwood. Senão, sejam Marias e Manuéis – com muito orgulho – ou fiquem-se pelos Expeditos ou pelas Janaínas. Nem a Natalícia, coitada, pode sê-lo, nem mesmo se o nascimento da pequena ocorrer a 24 de Dezembro. Nasça rapaz e o assunto será pacatamente resolvido na Conservatória.

O que vale é que há quem zele pela cultura portuguesa. A começar pelos nomes lusitanos. Puros. Nada mais português do que impedir a todo o custo que um Filipe passe a Felipe. Bastaram três, de triste memória.

É assim mesmo Senhor Consultor de Onomástica. Continue a fazer o seu bom trabalho. Era o que faltava, Rosa poder ser Orquídea.

Manuel


posted by: 1 dos 2 / 12:54
#






ÚLTIMAS ENTRADAS



ARQUIVO
setembro 2003
outubro 2003
novembro 2003
dezembro 2003
janeiro 2004
fevereiro 2004
março 2004
abril 2004
maio 2004
junho 2004
julho 2004
agosto 2004
setembro 2004
outubro 2004
novembro 2004
dezembro 2004
fevereiro 2005
maio 2005
julho 2005
agosto 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
abril 2006



Outras (des)Graças

A Tasca da Cultura

Classe Média

4025 km a Leste

Já sou grande



GoogleNews

This page is powered by Blogger. Isn't yours?




Locations of visitors to this page