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'Tou que nem posso


... graças e desgraças


quarta-feira, 10 de dezembro de 2003



A derrocada
 
A notícia teve honras de abertura do telejornal. Um deles. Houve uma derrocada algures no Norte do país. Uma parede ruiu ao cair da noite. Se tal tivesse sucedido umas horas antes, poderia ter causado vítimas numa creche situada quase ao lado. Se houvesse pessoas por perto poderia tê-las soterrado. Se tivesse rasgado a conduta do gás poderia ter causado uma explosão. Se tivesse caído para a rua poderia ter atingido um autocarro, se passasse um àquela hora.

O repórter entrou em directo assim que foi possível. Primeiro sem som mas a questão foi solucionada a tempo de se ouvir a senhora idosa que morava no prédio ao lado contar que tinha sido a terra a tremer mas assim de fora p’ra dentro, um grande susto, valha-me Deus. A senhora idosa contou que tinha alertado o engenheiro da Câmara, como o sr. engº disse que bastaria escorar a parede e como ela disse ao sr. engº, ó sr. engº olhe qu’eu acho que isto não aguenta mas o sr. engº não ligou e disse que não havia motivos p’ra preocupações mas a senhora idosa preocupou-se e disse, ó sr. engº olhe qu’isso não aguenta, ainda há dias esteve aqui o Tóne qu’é trolha há muito ano e ele disse p’ra quem quis ouvir qu’esta parede está mais p’ra lá que p’ra cá…

Por detrás do repórter, em cima dos escombros, crianças põem-lhe cornos, alguém mete a cabeça e olha fixamente para a câmara seja qual fôr o ângulo de filmagem, ouve-se uma voz que grita que só em Portugal é que uma coisa destas acontece, outra manda Luís Filipe Scolari para a terra dele. Uma mulher magra e com ar transtornado diz que o que é preciso são dois Salazares, um só não chega.

Imperturbável, o repórter volta a contar a história toda, deixa no ar a sensação de estarmos no dia 11 de Setembro, passa a emissão para o estúdio, onde, para que não restem dúvidas, o pivô resume os acontecimentos, conversa ao telefone com o Presidente da Câmara, ausente no estrangeiro, com um perito da Faculdade de Engenharia do Porto e com outro do Instituto Nacional Engenharia Civil, este, a partir dos estúdios de Lisboa.

Quem não viu à hora do almoço, correu para casa à noite.

Se enquanto se livrava da nobreza, Sebastião José tivesse tv cabo, os Távoras teriam confessado tudo em muito menos tempo. E não teriam sido os únicos.


Manuel



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