A esta pergunta, feita por um velhinho com ar de quem já passou dos noventa, respondeu o empregado da mercearia com outra enquanto atendia a cliente antes de mim: qual troco?
O meu troco, respondeu o velhinho, num tom irritado.
Mas o senhor ainda não me pagou, disse o empregado, com um ar divertido. Paguei sim, repetiu o velhinho, zangado, tirando uma nota do bolso da camisa e abanando-a no ar, eu dei-lhe uma nota de cinco, tinha duas quando saí de casa, agora só tenho aqui uma, vê?
Perante a indiferença do empregado, o velhinho bateu com a mão no balcão e gritou, quase apoplético: eu quero o meu troco, quero ir para casa, dê-me o meu troco!
O empregado levantou a cabeça, agora incrédulo. Perante a expressão de fúria do velhinho, o empregado levou as duas mãos à cabeça, esfregou com ambas a cara, dos olhos ao queixo e ficou assim durante algum tempo. Depois, levou a mão direita ao bolso das calças, tirou a carteira, abriu-a, pegou em várias moedas, deu-as ao velhinho e disse, aqui tem o seu troco, tenha um bom fim de semana.
Sem dizer nada o velhinho saiu da loja, certamente convencido que tinha dado uma nota de cinco ao empregado da loja.
Ainda há gente boa, pensei.
Sem fazer um único comentário, o empregado acabou de atender a senhora que estava antes de mim, e que antes de sair lhe disse que acabara de ter um gesto de caridade. Depois, também sem uma palavra, fez as contas às minhas compras, perguntou-me se era tudo e disse-me qual a contrapartida que lhe cabia.
Olhei para ele e com ar sério disse: e o meu troco?