Descer o Rio Paiva, em pleno Inverno e com um frio de rachar. Para quem conhece o meu horror ao frio, deve achar que é um programa que dispenso de boa vontade.
Pois bem, enganam-se. E isso é a prova que medos, fobias e demasiado bom senso são razões para que nesta vida se passe ao lado de sensações únicas.
Enregelei, é verdade; o facto de borracha, as luvas, o carapuço, as botas, o colete, as joelheiras e toda a parafernália de adereços que fui obrigada a envergar não foram suficientes para proteger o meu pobre físico da temperatura gelada das águas do rio. Mas adorei cada minuto, desde a paz e o silêncio que me envolviam enquanto me deixava deslizar embalada pela corrente, em que ouvia ao longe a conversa entre os meus companheiros de passeio, em que registava com os olhos a beleza da paisagem ao longo das margens inacessíveis, momentos que antecediam e que eram interrompidos pelo crescendo do ruído dos pequenos rápidos que nos esperavam ciclicamente, em que a adrenalina vinha ao de cima e em que me agarrava à prancha e pensava “agora é que são elas”, em que o objectivo era ultrapassar o obstáculo, evitar as pedras, para logo a seguir ao alívio de “este já passei!” pensar “Oh! Já acabou!”
E o mais engraçado de tudo, era olhar para trás para observar os que me seguiam e pensar: