À procura de lugar para estacionar, a cabeça tipo pardal – que jeito que dava para a rodar a 180° - os ouvidos apurados – será que estou a ouvir o ruído de uma ignição? – três voltas ao quarteirão, já a dizer mal do dia que ainda não tinha começado, os palavrões a serem mentalmente proferidos – sempre começados por “p” que são os únicos que me aliviam – quando os meus olhos reparam em algo que os fazem voltar atrás.
Um casal. Teriam mais de 70 anos, com certeza. Caminhavam pelo passeio, sem pressa. Sobretudo não tinham o ar daqueles “velhinhos” meio perdidos, que normalmente despertam em nós, nos menos velhos, um sentimento de compaixão, que às vezes nos leva a sermos inconvenientes e oferecer a ajuda que não nos é pedida.
Caminhavam com ar de quem sabia para onde iam. Vestiam desportivamente. Ela, bem roliça, calçava botas de caminheira, ele… nem reparei.
Reparei apenas que caminhavam de mão dada, com o à vontade de quem o fazia por gosto, por hábito, com a descontracção de quem manteve esse gesto durante uma vida.