Hoje desci para almoçar, coisa que ultimamente tenho vindo a fazer com maior frequência porque as horas de trabalho aumentam e a fome é directamente proporcional ao primeiro, porque na tentativa de combater o aumento de horas sedentárias me levanto mais cedo e vou ao ginásio, porque estou farto de sanduíches, por pura e simples preguiça.
Já conheço a oferta dos restaurantes da zona de cor e, coisa estranha, são cada vez menos. Fecham, uns a seguir aos outros. E como em qualquer ecosistema a pressão sobre os recursos alimentares aumenta. Sempre que vou a um restaurante lembro-me de quando era miúdo e ia com os meus pais almoçar fora. Demorava horas a escolher e no fim era sempre o mesmo: bife com batatas fritas. A diferença é que aqui nem o bife é bife nem as batatas fritas são batatas fritas. A semelhança é que mesmo sabendo o que o restaurante não tem eu acabo sempre por procurar algo de novo na lista. Sou um optimista por natureza.
Adiante. Estava eu entretidissimo a comer a minha pasta e a ler o jormal quando eis que entre os penne, o tomate seco e as lascas de queijo feta (que me faz lembrar Chipre) encontro um pedaço de papel de cozinha. Chamo a empregada (que ou me engano muito ou está grávida e já era altura de deixar de andar com a barriga assim à mostra) e aponto para o prato. Faz uma cara de pré-desmaio, saca-me o prato da frente, volta para trás ainda com o prato na mão e desfaz-se em desculpas, retorna à cozinha e volta dez minutos depois com outro prato, igual ao primeiro mas mais cheio, à laia de compensação, e sem pedaços de papel. E agora? Como, não como? Até estava bom. Seria do papel? Comi, claro que comi pois se estava com fome. E a mocita foi tão simpática. E continuou a ser simpática até ao fim da refeição, tão simpática que quando me trouxe a conta eu quase nem dava conta que me debitaram dois pratos de pasta.