Imagine-se uma das cidades do mundo com mais carros, mais táxis, mais autocarros, mais motas, mais mensageiros e entregadores de pizzas, mais peões, mais cães, mais gatos, mais motas, mais mensageiros e entregadores de pizzas a usar as passadeiras reservadas a quem mais não tem do que duas pernas ou quatro patas, por vezes nem isso -, por quilómetro, por habitante, por metro quadrado, por hora. E mais poluição, mais pó no ar, mais obras, ainda mais pó no ar.
Obras. Alargam-se vias, desnivelam-se cruzamentos, constroem-se túneis e viadutos, duplicam-se faixas de rodagem. Cartazes procuram mostrar como é que as ruas vão ficar depois de prontas.
Até aqui poderia ser algures em Lisboa. Talvez no Porto.
Num dos extremos da rua em obras movem-se edifícios históricos, um a um, vinte ou trinta metros para trás, para deixar passar uma rua nova sem que as casas sofram com isso. Transplantam-se árvores e ainda a rua não está pronta e já tem separadores verdes e floridos. Marcam-se faixas, até corredores para bicicletas vai haver.
Lisboa? Porto?
Semáforos, grandes, bem colocados, visíveis mesmo do ângulo mais agudo (Lisboa?!Porto?!), solícitos e solidários para com o amarelo (laranja, não?), passam por ele em ambas as direcções, verde também pisca antes de mudar para amarelo (Lisboa?!! Porto?!!) , continuam a debitar como se nada fosse, sabe-se lá se amuados por tanto desnivelamento, imunes a mudanças de fluxo de tráfico, reis e senhores de cada cruzamento. Mesmo em dia feriado, onda verde só se for na praia, em dia de descarga de esgotos.
Sincronização? Alguém ouviu falar do conceito? Ninguém?
Com licença, até poder avançar mais um pouquinho vou ver se durmo. À vontade, diz-me o parceiro do lado direito. Eu acordo-o.